quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Dias de Glória

(Indigènes, Argélia/Marrocos/França/Bélgica, 2006)



Dura a vida de soldados, especialmente se forem argelinos ou marroquinos defendendo a França colonial durante a Segunda Guerra Mundial. Tratados como soldados de segunda classe, esses batedores “indígenas” do título original, após o alistamento no Norte da África, são soltos logo de cara sob pesado fogo inimigo numa montanha na Itália, a fim de revelar para a artilharia francesa, ao servirem de bucha de canhão, a posição das casamatas e metralhadoras alemãs. Em seguida, os sobreviventes rumam para a França para ajudar a libertar o território dos nazistas. Apesar de lutarem sob a mesma bandeira, continuam sendo vistos como ralé pelos outros franceses e enviados a missões de apoio igualmente arriscadas e ingratas. Percebem que, embora lutem pela liberdade de todos, a igualdade e a fraternidade apregoadas pelos nobres iluministas não passam de ideais ainda inalcançados. Felizmente, o tom demonstrativo de denúncia é construído mais pelas imagens que exaltado em discursos panfletários, como mostra a cena após a batalha na vila da Alsácia ou ainda a silenciosa seqüência final no cemitério dos veteranos com um dos sobreviventes, Abdelkader (Sami Bouajila). Acima de tudo, trata-se de um filme de guerra à moda antiga, onde os soldados parecem saídos de um filme de Samuel Fuller, com ótimas cenas de batalhas, envolventes, brutais, bem encenadas pelo diretor Rachid Bouchareb, em que se corrói o nacionalismo à francesa ao som de La Marseillaise, apoiado por um elenco dos bons, com destaque para o comediante francês de origem argelina Jamel Debbouze (de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain), num papel sério como o pobre, mas muito determinado Saïd. Mas não há nenhuma glória no destino desses homens, ao contrário do que afirma o errôneo título nacional.

6 comentários:

Anónimo disse...

Realmente um filme muito interessante, ainda mais pensando no que ocorreu ano passado nos subúrbios de Paris. A França ainda tem que repensar a sua atuação na argélia.

Alê Marucci disse...

Muito bom!
Fiquei com um nó na garganta ao final do filme.
E ainda bem que só li seu texto hoje, porque não ia gostar nem um pouco de ter lido sobre a seqüência do cemitério antes de ver o filme. ;)
Beijo.

Lorde David disse...

Mas, Alê, eu não revelo muito sobre a cena e os detalhes. Ou revelo? Hehehe. Um beijo, ruivinha querida.

Michel Simões disse...

Quem arrumou esse péssimo título nacional?

Filmaço, e compara esse com o do Clint, os finais são parecidos, mas esse não tem aqueles discursos de heróis, ó vida, ó ceus, o dor, hehehehe...

Já é um dos meus preferidos do ano, me arrepiei p/ valer na Mostra!

Lorde David disse...

Na verdade, eu lembrei de O Resgate do Soldado Ryan, Michel, especialmente na cena do cemitério. E no começo até achei que fosse uma produção européia de guerra bem convencional, tipo Feliz Natal. Quando passa para o plano mais particular dos personagens aí o filme se diferencia.

E ainda estou para escrever sobre o filme do Clint, aguarde. Um abraço.

Lorde David disse...

Quanto ao título nacional, trata-se da velha mania brasileira de enfiar "Honra", "Glória" ou "Liberdade" em qualquer título de filme de guerra ou conflito, mesmo que o original nada tenha a ver com isso: A Conquista da Honra, Ventos da Liberdade, Iwo Jima - O Porral da Glória, Morte sem Glória, Agonia e Glória, este Dias de Glória, e por aí vai.