(El Violin, México, 2006)
Cenário revisitado das contradições político-sociais da América Latina dos anos 70, com guerrilha, ditadura, tortura e indígenas desplazados, numa fotografia em preto-e-branco, um tanto estetizante. Tudo muda com a entrada em cena de Don Plutarco (Don Angel Tavira), que mesmo sem uma das mãos, segue estoicamente tocando seu violino em meio aos conflitos. Também é velho o bastante para não mais se render às ilusões da luta armada contra os militares, ainda que faça parte dela, conforme vai narrando histórias de resistência dos povos indígenas a cada noite ao seu neto (Mario Garibaldi) e tendo seu filho (Gerardo Taracena) diretamente engajado na luta. E é graças ao seu violino que também estoicamente dribla essas contradições ao ganhar a simpatia de um coronel (Dagoberto Gama), que ocupa com o exército a sua propriedade e que, encantado com o som do instrumento percurtido por Don Plutarco, passa a vê-lo todos os dias, exigindo sempre ouvi-lo tocar. Assim, o laço entre os dois se estreita, e as ambigüidades emergem, já que Don Plutarco aproveita esses encontros para furtivamente contrabandear pela caixa do instrumento armas e munições para a tropa rebelde de seu filho, escondidas no milharal da propriedade, bem debaixo dos narizes dos militares. São cenas plenas de tensão e suspense, traduzidas com o mínimo de gestos pela figura diminuta de Don Plutarco, sábio e bem mais corajoso que toda a guerrilha ao encarar os militares apenas com a sua arte e paciência, esta impressa no rosto bem vivido, que também pouco se move, mas que diz tudo, da mesma forma que os rostos quase fixos retratados pelo casal Jean-Marie Straub e Danièle Huillet em Gente da Sicília (99), por exemplo, neste primeiro filme de Francisco Vargas Quevedo (originariamente baseado num curta-metragem seu), que termina de forma cíclica, mas que não encerra a luta ou o arpejar do violino. Contexto explosivo, cinema de contenção, e dos bons.
Sem comentários:
Enviar um comentário