sexta-feira, junho 29, 2007

Natal em Julho

(Christmas in July, EUA, 1940)



Um pouco do clima de Frank Capra nesta comédia muito enxuta de Preston Sturges (dura não mais que uma hora). No entanto, cada momento ou diálogo ou cena são dos mais memoráveis, no registro dos sonhos e ilusões desfeitas de uma hora para outra na vida de pessoas comuns. Em Plena Depressão nos anos 30, um escriturário de Nova Iorque (Dick Powell) sonha a cada dia em melhorar de vida nestes tempos difíceis. Sonha tanto que nem dorme mais. E deposita todas as suas esperanças num concurso de rádio que premiará com grande soma de dinheiro (para a época) o melhor slogan para uma marca de café. Por isso, crê ingenuamente ter criado a melhor frase de todos os tempos: “Se você não consegue dormir à noite, não é o café. É a cama”, ainda que o café de fato impeça o sono para muita gente, como insiste sua pragmática namorada (Ellen Drew), na contramão da teimosia dele. Um impasse na hora de decidir o vencedor atrasa o resultado, o que só faz aumentar a expectativa em toda a cidade. E dá a chance para três maldosos colegas de trabalho anunciá-lo, numa armação, como o “real” vencedor. O que era para ser uma brincadeira de escritório acaba extrapolando os limites do prédio. Todo mundo fica sabendo, até o dono da companhia de café vai recebê-lo. Ele vira uma celebridade, ganha crédito nas lojas de um dia para o outro e passa a distribuir presentes para os vizinhos, como um ingênuo Mr. Deeds, fazendo valer o título do filme, até a hora da verdade. Aí o filme fica sério. E os afetos são testados para valer, de forma decisiva e emocionante. Um roteiro com diálogos rápidos, eloqüentes e certeiros, como sói acontecer em muitas das comédias dos anos 30, e um carinho todo especial que Sturges (Contrastes Humanos, 1941) imprime em seus personagens, sem sentimentalizá-los, no entanto, numa visão humanista contra um sistema triturador de ilusões e expectativas e as pessoas envolvidas nele, além de inspirada atuação de Dick Powell, em química perfeita com Ellen Drew, fazem deste um dos grandes pequenos filmes sobre a Depressão americana.

quarta-feira, junho 27, 2007

Um Lugar na Platéia

(Fauteuils d'Orchestre, França, 2006)



Pessoas comuns em meio a pessoas incomuns, famosas, extravagantes, ricas, neuróticas, mas com problemas e angústias em comum entre si, nesta comédia tipicamente parisiense de Danièle Thompson (Fuso Horário do Amor, 2002). Na chique Avenida Montaigne, um concerto de Beethoven, um leilão de obras de arte e uma apresentação teatral de Feydeau estão para acontecer no mesmo dia, no mesmo quarteirão, nas cercanias do hotel Ritz. Em meio aos preparativos, os protagonistas de cada evento – um pianista (Albert Dupontel) cansado de todo o ritual tradicional do concerto, da casaca à platéia pomposa do teatro, e sufocado pela mulher (Laura Morante), que ainda ama, no entanto; um milionário (Claude Brasseur), que arruma uma amante bem mais jovem e que quer se desfazer de sua coleção particular para não virar “guarda de museu”, nas suas próprias palavras, apesar das restrições de seu filho intelectual (Christopher Thompson), que pouco liga para dinheiro ou para "Catarina de Médici" e que está com o casamento em crise; e finalmente uma atriz (Valérie Lemercier), bipolar, workaholic e cansada do sucesso na televisão, que encena a peça e que sonha em fazer um filme de prestígio com um diretor americano (Sydney Pollack), que por sua vez se encanta com a visão heterodoxa dela sobre Simone de Beauvoir – são servidos por uma jovem garçonete interiorana (Cécile De France), criada pela avó e que almeja ter o seu lugar na platéia, mas não muito longe do palco. Nem muito perto também. E de preferência com alguém sentado ao seu lado, como todo mundo. Ao arrumar um emprego num café nas redondezas, ela fará a ligação entre as três histórias neste filme de encontros, desencontros e temperamentos à flor da pele, que é francês sem ser cabeçudo, apesar das inúmeras referências artísticas e literárias que percorrem os afiados diálogos. Ao contrário, ao zombar de Sartre ou Beauvoir, é cheio de vitalidade, afetuoso com os personagens e emana elegância mesmo nos seus momentos mais vulgares, da mesma forma que o Imperador de Beethoven, brilhantemente executado durante o clímax, que une os três acontecimentos e personagens de forma decisiva, hilária e poética. Bravo!

terça-feira, junho 26, 2007

A Vida Secreta das Palavras

(La Vida Secreta de las Palabras/The Secret Life of the Words, Espanha, 2005)



Duas pessoas feridas. Ele (Tim Robbins), num acidente numa plataforma de petróleo, que o deixou com queimaduras e cego. Ela (Sarah Polley), deficiente auditiva, enfermeira do Leste Europeu, que trabalha como operária no Reino Unido e que evita falar sobre o passado. Solitária, evita falar na verdade com quer que seja. Durante as férias que é obrigada a tirar, ela arruma trabalho como enfermeira dele em pleno Mar do Norte, na plataforma. Aos poucos, os dois se aproximarão. Ele fala muito. E ela falará também. As palavras secretas do título virão à tona, trazendo o passado, dele e dela, dela, sobretudo, de volta. E junto com ele as feridas ainda não cicatrizadas da guerra e suas infelicidades impressas no corpo. Aí o filme, de atmosfera melancólica, concentrada, quase silencioso, perde parte de seu mistério, de suas ambigüidades, para virar um relato duro e direto das atrocidades da guerra. Intenso, no entanto, pois Robbins e Polley têm uma sintonia fantástica, construída aos poucos, evitando que o filme de Isabel Coixet (Minha Vida Sem Mim, 2003) derrape no sentimentalismo travestido de denúncia típica de ONG, como atesta a desnecessária participação da personagem de Julie Christie no terço final da narrativa.

Carreiras

(Brasil, 2006)



A tagarelice de mesa de bar de Domingos Oliveira, cena que abre o filme, alinhada mais uma vez à histeria confessional de sua protagonista e colaboradora habitual Priscilla Rosenbaum (muito bem), como uma âncora televisiva, que, entre uma carreira e outra de cocaína, vê sua carreira propriamente dita desmoronar, ao ser trocada por uma moça mais jovem na emissora onde trabalha. Noite adentro, esgoelando-se pelo telefone, ela atira farpas em tudo e a todos, amigos, noivo e inimigos. Quase não sobra “afeto” para ninguém. Rápido e rasteiro, apressado melhor dizendo, sobretudo por causa de seu baixo orçamento, não deixa de ter certo interesse, expondo acima de tudo a vontade do realizador em fazer cinema de qualquer jeito e a qualquer custo, ajudado pela flexibilidade do digital, apesar das suas precárias condições de realização, usadas inclusive para propagandear o filme, ao alardear mais uma vez a estética da mendicância exercida nas filmagens, feitas em cooperativa, discurso às vezes comum no cinema nacional e que aqui ganha a sigla de BOAA (Baixo Orçamento e Alto Astral). Mesmo assim, em termos narrativos, não se afasta muito de sua origem teatral, baseado em peça de Oduvaldo Vianna Filho, pois é todo conduzido pelo texto. Sente-se também que é um tanto incompleto em sua conclusão, vagamente conciliadora, pois ela passa a noite atacando o sistema e as pessoas por trás dele, é triturada por eles, para depois se submeter a eles no final das contas. Então fica tudo como está, mesmo, nem teria valido a pena berrar tanto, pois a carreira é retomada e as carreiras (e os cigarros e a bebida e os comprimidos), também. Ou teria?

segunda-feira, junho 25, 2007

Treze Homens e Um Novo Segredo

(Ocean’s Thirteen, EUA, 2007)



Os mesmos 11 de Ocean (George Clooney) dos dois filmes anteriores. Bandidões, mas bons sujeitos. Um plano ainda mais mirabolante: quebrar a banca do cassino de um rival todo perfeccionista e arrogante (Al Pacino), que passou a perna em um dos 11 (Elliot Gould), que ficou doente por causa disso. Não só. Também socializar os lucros, para deleite de Oprah Winfrey e desespero de Andy Garcia, novo parceiro da gangue. De quebra, melhorar as condições de trabalho dos operários mexicanos. Uma química ainda melhor entre eles, sobretudo entre Brad Pitt e Clooney, machões sensíveis, que choramingam sobre seus frustrados relacionamentos amorosos, enquanto planejam chacoalhar (literalmente) Las Vegas, em meio a diálogos afiados e inteligentes, um Steven Soderbergh super à vontade na direção e um Matt Damon roubando a cena como o sedutor de plantão. Em suma, uma delícia do início ao fim.

Olhe para os Dois Lados

(Look Both Ways, Austrália, 2005)



Olha para os dois lados, vida e morte, morte, sobretudo, e não vai para lugar nenhum, a não ser ficar imaginado coisas absurdas o tempo inteiro, por meio de toscas animações. Da escola Eu, Você e Todos Nós (2004), junto com Quem Somos Nós (2004): mulher, artista plástica sensível e neurótica, incapaz de amar, e homem de olhar sempre pensativo e filosófico, um fotógrafo, que descobre que tem câncer e reavalia a vida e tal. Um acidente de trem os aproxima, ou os distancia, dependendo para que lado se olha, etc. Mas e nós, como ficamos? Ai, ai.

sexta-feira, junho 22, 2007

O Hospedeiro

(Gwoemul/The Host Coréia do Sul/Japão, 2006)



Filme de monstro às antigas de Bong Joon-ho (Memórias de um Assassino, 2003), incluindo aqui e ali os comentários políticos e a sátira social e militar em meio a diálogos e situações às vezes tensas, às vezes dramáticas, às vezes (muito) bem-humoradas, sem qualquer vergonha de apelar para o pastelão e para o absurdo. Como no Godzilla japonês, nasce um monstro, agora made in Korea, um híbrido mutante gigantesco emergindo do rio Han, resultado do despejo de substâncias tóxicas advindas, claro, de uma base militar americana instalada no país. Sem perder tempo, o filme parte para o primeiro e eficiente enfretamento da criatura, mostrada já por inteira, engolindo gente às margens do rio e levando para o esgoto, entre as vítimas, a filha de um vendedor meio abobalhado de um quiosque local. Após o ataque, a família da menina e todos os que tiveram contato com o bicho são levados para uma base de quarentena pelos militares, que isolam a área do rio. Mas o pai descobre que a menina está viva e, perseguido, parte com toda a família, tipos meio desajustados ou marginalizados, para resgatá-la, numa aventura por baixo de pontes e esgotos de Seul, envolvendo inclusive funcionários corruptos da prefeitura, em meio às versões atropeladas difundidas pela mídia das autoridades coreanas e americanas, dos cientistas e dos militares, que declaram ser o monstro o hospedeiro de um vírus letal, como pretexto para testar armas químicas contra ele. Um tanto longo, tentando sempre alfinetar alguém, desde as autoridades submissas do país, os americanos, obviamente, e até os hábitos alimentares das pessoas, tem nas aparições do tal hospedeiro, inteligente e feroz, criado a partir de ótimos efeitos especiais, e na perfeita química entre os integrantes da família seus pontos altos. Uma bela diversão, que renova com inteligência e humor o gênero e vai um pouco além.

quinta-feira, junho 21, 2007

Extermínio 2

(28 Weeks Later, Reino Unido/EUA/Espanha, 2007)



Substituindo as longas e poéticas tomadas de Londres abandonada do anterior pelo campo, começa em ritmo forte esta continuação do excelente filme de Danny Boyle, aqui a cargo do espanhol Juan Carlos Fresnadillo (Intacto, 2001), adepto da correria. E não pára mais. Até o desenvolvimento mais aprofundado dos personagens passa a ser secundário. Durante a epidemia que transformou a população da Inglaterra em zumbis canibalescos velozes e furiosos, dizimando-a, os remanescentes tentam a todo custo sobreviver em meio aos despojos. Em mais um ataque numa fazenda, um deles (Robert Carlyle) consegue escapar, deixando para trás a mulher (Catherine McCormack). Semanas depois, com a epidemia controlada, os sobreviventes começam a retornar ao país, sob forte vigilância do exército americano. No entanto, um deles, justamente a mulher abandonada na fazenda, carrega o vírus e, ainda que imune a ele, volta a espalhar a contaminação. Então, outros sobreviventes, sobretudo dois irmãos, filhos dela, passam a ser perseguidos tanto pelos novos zumbis, ou infectados, como pelos militares, que tentam deter a ameaça a qualquer custo. Mais brutal, mais tenso e auxiliado ainda pelo bom uso da câmera na mão, chacoalhante, para acentuar a ação e os confrontos viscerais, num clima de caos generalizado, tem um final ainda mais sintético e apocalíptico que o anterior, homenageando Zombie (79), de Lucio Fulci. Produzido por Boyle, Alex Garland et caterva (Sunshine, 07, A Praia, 99), mantém ainda a convicção de ambos de que essa humanidade, cada vez mais desumana em sua determinação autofágica, não tem jeito mesmo. Eletrizante.

quarta-feira, junho 20, 2007

Zodíaco

(Zodiac, EUA, 2007)



A obsessão de três pessoas, um policial, um jornalista e um cartunista, ao longo de mais de uma década, no final dos anos 60, para capturar o célebre serial killer autodenominado Zodiac, que causou pânico na região de São Francisco ao enviar cartas e mensagens cifradas para os jornais da cidade, avisando sobre novos crimes, e que dizia ter perpetrado mais de 30 assassinatos. Assassino(s) nunca capturado(s). Só três seqüências de morte. E uma obsessão em entender a realidade, em decifrá-la, que percorre toda a narrativa. Uma realidade, porém, que se mostra escorregadia a cada signo supostamente desvendado. E a fabricação do real pelo cinema, mero artifício ilusório para tentar organizar o mundo que escapa da compreensão, como mostrado na cena em que os protagonistas se encontram na sessão de Perseguidor Implacável (Dirty Harry, 1971), de Don Siegel, baseado no caso. Ou pela mídia, que amplifica a sensação de medo. Ao longo da investigação, evidências e mais evidências se tornam provas circunstanciais ou tecnicalidades, levando o caso ao impasse, mas não ao fim do mistério, o que é frustrante. E vidas são arruinadas, consumidas por essa obsessão. Um grande filme de David Fincher, dirigido com um rigor quase classicista, atento a todos os detalhes, evitando os excessos maneiristas de seus admiráveis trabalhos anteriores (Alien 3, Seven, Clube da Luta), para expor aqui com transparência absoluta um mundo cuja claridade é toda enganosa ou relativa.

terça-feira, junho 19, 2007

Depois do Casamento

(Efter Brylluppet/After the Wedding, Dinamarca/Reino Unido/Suécia, 2006)



Uma câmera na mão, sempre próxima ao rosto dos atores, com poucos planos mais abertos, que revelam apenas o essencial e que lembra o estilo de filmar do Dogma, por uma diretora inclusive egressa do movimento. Também as locações autênticas na “rica” Índia, com pobres cheios de vida, e na “pobre” Dinamarca, cheia de ricos emocionalmente miseráveis, interpretações naturalistas, som ambiente, contando até com a ambientação num casamento, como em Festa de Família (Festen, 1998), de Thomas Winterberg, reencontro com o passado e muito da seiva do melodrama na história de um homem que administra a duras penas um orfanato na Índia e que vai a Copenhague para arrumar dinheiro para manter a instituição funcionando. Lá, ao entrar em contato com o possível doador, é convidado para o casamento da filha dele, onde descobre que o milionário filantropo é na verdade marido de uma antiga paixão sua. E descobre também que a noiva é na verdade a sua filha. E que o patriarca está morrendo de câncer. E que o dinheiro dele não servirá apenas para o orfanato, além de outras surpresas. Tudo revelado por meio de olhares, concentrando o drama, o grande mérito deste filme de Susanne Bier (Brothers, 2004), que conta ainda com um excelente elenco, encabeçado por Mads Mikkelsen (Meu Quer se Matar, 2002, e Cassino Royale, 2006), como o suposto idealista em confronto com o passado e obrigado a ceder a ele.

segunda-feira, junho 18, 2007

Andata e Ritorno – Finale

Addio:



A surpresa nas idas e vindas pela Toscana: a estância hidromineral de Montecatini Terme e a principal terma, o Tettuccio, em estilo neoclássico, de uma cidade bastante agradável.



E a despedida na cosmopolita Milão, já longe da Toscana, após cometer inúmeras infrações de trânsito na chegada à cidade com um ultrapotente Fiat Panda 1.3. Felizmente, longe da visão dos carrancudos Carabinieri. Na foto, a rua mais chique da cidade, a Via Montenapoleone, cenário de um filme brega-chique de mesmo título nos anos 80, e um dos carrinhos que circulam por lá.



Falando em máquinas, um estacionamento de carros “populares” na cidade.



Na terra das mamas e das igrejas, mais uma: o imponente Duomo, principal símbolo de Milão, em estilo gótico tardio, cuja restauração removeu a cor escura e a sujeira da fachada e das agulhas.



E, para encerrar em grande estilo, uma noite na ópera (Lady Macbeth, de Dimitri Shostakovic), no célebre Teatro Alla Scalla. Agora de volta à correria do trabalho, enquanto ainda existe. Aos poucos. Adagio sostenuto. Ma non troppo. E aos filmes, talvez, e na versão original e não mais dublados em italiano, per favore, pois os italianos são como os americanos. Ou seja, têm uma preguiça enorme de ver filmes legendados nos cinemas. Dublam tudo. Ainda asssim, foi muito divertido ver Grindhouse em italiano, com direito a trailer de La Terza Madre, novíssimo filme de Dario Argento, e intervalo no meio da sessão. E ainda assim, é admirável o gosto cinéfilo deles. Em Castelnuovo ou Milão, por exemplo, vê-se vendido nas bancas todo tipo de filme. São pilhas e pilhas de DVDs, amontoados de qualquer jeito nas preteleiras, que vão desde sucessos recentes aos clássicos de Hitchcock e Kubrick, vendidos em fascículos, e os gialli de Umberto Lenzi, Lucio Fulci e Dario Argento, além, claro, dos eróticos de Tinto Brass. Mas isso fica para um outro post, se a musa inspiradora ajudar. Arrivederci e até breve. Espero.

sexta-feira, junho 15, 2007

Andata e Ritorno – Quarta Parte

Retratos da Toscana:



Em Vergemoli, perto de Castelnuovo, as fantásticas formações de alabastro da Gruta do Vento, a quase dois mil metros de altitude.



Florença, a capital da Toscana. Grosso modo, uma série de monumentos e museus com obras-primas do Renascimento e de outras épocas (Brunelleschi, Benvenuto Cellini, Rafael, Michelangelo, Donatelo, Fra Angélico, Boticcelli, Vasari, esses caras todos) cercada de japoneses por todos os lados. Também tem ativa agenda cultural. Era o Maio (e Junho) Musical, com programação bem eclética, que reunia desde shows do Slayer e do Iron Maiden a apresentações da montagem da ópera O Ouro do Reno, de Richard Wagner. Aqui, na Piazza della Signoria, entre outros monumentos, David e David. O esculpido e o encarnado. Mas não se enganem: um deles é uma cópia.



Ao fundo, o cartão de visitas de Florença: a Ponte Vecchio sobre o rio Arno. Para lembrar de Puccini e da célebre ária O Mio Babbino Caro, da ópera Gianni Schichi:

O mio babbino caro,
mi piace è bello, bello;
vo'andare in Porta Rossa
a comperar l'anello!
Sì, sì, ci voglio andare!
e se l'amassi indarno,
andrei sul Ponte Vecchio,
ma per buttarmi in Arno!
Mi struggo e mi tormento!
O Dio, vorrei morir!

Babbo, pietà, pietà!
Babbo, pietà, pietà!



E, fugindo um pouco dos cartões postais de Florença, próximo à Ponte Vecchio, um grande cinema de arte. Pornô, claro. Ainda assim preserva o saguão elegante, inspirado na fantasia do Arlequim, dos tempos em que a programação do lugar era menos, digamos assim, "cult".



E, finalmente, Lucca, capital provinciana, terra natal de Puccini, a cidade por onde passávamos quase que diariamente para seguir de Castelnuovo a Florença, Siena, Montecatini, Arezzo, etc. É cercada por acolhedoras muralhas. Na foto, a Praça do Anfiteatro romano, erguida sobre as ruínas de uma arena romana e que tem os apartamentos mais caros de toda a Itália. Em Lucca, também um dos melhores momentos da viagem: o concerto do pianista sérvio Ivo Pogorelich e a sua interpretação muito particular (e triste) da mítica Sonata 32, Opus 111, de Beethoven, obra homenageada em Doutor Fausto de Thomas Mann, além de uma leitura bem eslava de Rachmaninoff e Scriabin.

quinta-feira, junho 14, 2007

Andata e Ritorno – Terza Parte

I Brasiliani di Barga – Série Encontros na Toscana



Lorde David, Monsieur Coli, um legítimo neto de garfagnaninos, Madame Bertzlian e Monsieur Chauzy, que é francês de Toulouse, mas brasileiro de coração, juntos após o formidável recital de canto e piano no belo teatro de Barga, onde o tenor também brasileiro Luciano Botelho (no centro) brilhou ao cantar a ária Una Furtiva Lacrima, da ópera O Elixir do Amor, de Gaetano Donizetti, numa apresentação que reuniu cantores talentosos de várias partes do mundo. Todos dirigidos por Dennis O’Neill.



E, no meio da trupe, eis o maestro de tudo: o grande tenor britânico Dennis O’Neill, encontrado por acaso numa sorveteria de Barga e que muito gentilmente nos convidou para o recital de seus alunos no teatro local. Depois, vino rosso e pasta na osteria local.



E por falar em música, próxima à Florença, um pouco da charmosa Arezzo, vista do Duomo, cidade onde nasceu Guido d’Arezzo, monge que criou no século XI o sistema de notação musical que possibilitaria o registro da música em partituras. Sem ele, não haveria a música polifônica, a música mais complexa. Também é a cidade natal dos pintores Piero della Francesca e Giorgio Vasari e dos poetas Petrarca e Pietro Aretino. Só gente boa.



E aqui, a placa assinalando a casa onde nasceu Guido e o sistema de notação com as notas musicais. O Si só seria acrescentado no século XV.

Andata e Ritorno – Seconda Parte

Estruturas:



Na conexão para Milão, o moderníssimo teto do salão de embarque do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris.



Em Florença, na Toscana, a maior obra do Renascimento florentino: a cúpula da Igreja de Santa Maria del Fiore, ou o Duomo, projetada por Filippo Brunelleschi.



Aqui, dois gênios florentinos, Arnolfo di Cambio e Brunelleschi, contemplam eternamente seus feitos arquitetônicos, logo ao lado do Duomo de Florença. Olhando para cima, à direita, Brunelleschi fixa o olhar na sua monumental cúpula. Ao lado, Arnolfo, olhando para baixo, vislumbra a nave da igreja que projetou no século XIII. Detalhe, a cúpula só foi erguida no século XV. A arte do escultor (ou dos escultores), no entanto, os aproximou.





Em Milão, a grande contribuição romana para a arquitetura, em versões modernas: o arco, onipresente na cidade. Acima, na entrada da Galeria Vitorio Emanuelle, elegante centro de compras, e, logo abaixo, na Piazza Diaz.

Continua...

quarta-feira, junho 13, 2007

Andata e Ritorno – Prima Parte

Aos poucos e ainda baleado devido ao (con)fuso horário, e depois de quase um mês de longos caminhos pela Toscana e Milão, este blog volta ao funcionamento, ainda que parcial. Eis alguns momentos inesquecíveis da viagem:



O começo, em Paris, depois de 12 horas de vôo no apertado (e lotado) Boeing 777 da Air France, mas com excelentes refeições e sorvete Häagen-Dazs à vontade a bordo. Acima, a praça da Bastilha, onde havia a fortaleza-prisão destruída na Revolução Francesa, e o moderno teatro da Ópera no fundo.



Dias depois, após mais uma viagem de avião de Paris até Milão e, de lá, em um potentíssimo Lancia Ypsilon, por meio de sinuosas e escuras estradas a beira de vales e montanhas escarpadas na Toscana profunda, a chegada na Garfagnana, com suas pitorescas cidadezinhas medievais. Na foto, o cartão postal da região, a Ponte do Diabo ou da Madalena, em Borgo a Mozzano, no Vale do Rio Serchio.




A capital "metropolitana", Castelnuovo di Garfagnana, e o rio Serchio.



Próxima à comuna de Castelnuovo, a casa de campo em Pieve Fosciana, onde passamos dias agradáveis e, às vezes, chuvosos, mas agradáveis ainda assim.



O lago de Vagli, uma das mais belas vistas da região. Suas águas profundas encobrem uma vila medieval que de dez em dez anos vem à tona com a abertura das comportas da represa de Vagli. É incrível também, em toda a Garfagnana, a variedade de tons de verde da vegetação, muito bem preservada.

Continua...