quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Pro Dia Nascer Feliz

(Brasil, 2006)



O “Ser e Ter” brasileiro. Mais ser, que ter. E bem brasileiro nas contradições e desigualdades mostradas, mas com bem menos da poesia do filme de Nicolas Philibert e registrando uma faixa etária maiorzinha. Aqui, tudo é um pouco mais áspero.

Trata-se da adolescência com os nervos e hormônios à flor da pele, mas também com a doçura e a inteligência aflorando neste retrato da educação brasileira e suas assimetrias estruturais, sociais, econômicas, vistas por meio de alguns depoimentos de jovens do Ensino Médio de escolas da periferia de São Paulo, de um bairro de classe média-alta paulistana, da Baixada Fluminense ou do sertão pernambucano, entre outras. Algumas eternas mazelas revisitadas, como a violência, a falta de estrutura, drogas, pais ausentes, o descaso com os professores e a omissão das autoridades, e um problema existencial comum a todos (e a mim também, oras!), mesmo entre os alunos mais abastados de São Paulo: a incerteza em relação ao futuro, em depoimentos ora engraçados, ora comoventes, ora assustadores, captados pela câmera um tanto intrusiva de João Jardim (A Janela da Alma), mas que, sobretudo pela observação, percorrendo corredores e instalações de ensino muitas vezes precárias, consegue aproximar alunos de universos tão distantes, sincronizando pela boa edição angústias e evitando o lado diretamente panfletário, doutrinário ou as falas reiterativas.

No conjunto, os depoimentos vão se somando e dão uma feição humana àqueles números exibidos na tela em determinado momento, todos bem desalentadores e tendendo a piorar. Uma das professoras entrevistadas, por exemplo, é tão nova e desmotivada que mais parece um de seus alunos. Apesar de tudo, como ponto alto, a jovem poetisa Valéria declamando um poema seu e que fecha o filme com sensibilidade.

2 comentários:

Alê Marucci disse...

Excelente! Esse documentário me pegou de jeito e me fez refletir sobre a minha própria educação e formação.
Beijo.

Lorde David disse...

Também me fez pensar na minha e nos meus dois inúteis diplomas universitários. Um beijo, querida.