(A Scanner Darkly, EUA, 2006)
A sensação de paranóia, de estar sendo observado, com a vida invadida, é recorrente nas histórias de Philip K. Dick (Blade Runner, Minority Report, Total Recall), assim como memória, identidade e cognição. Aqui, a paranóia é potencializada pelo uso de um narcótico proibido, a substância D, combatida pelo governo num futuro não muito distante. Um agente, o cético Fred (Keanu Reeves), ele mesmo um viciado, infiltra-se entre prováveis suspeitos que poderiam levá-lo a peixes mais graúdos do tráfico. Entre os suspeitos, ele próprio, já que nem seu superior conhece a sua identidade, pois no trabalho oculta-se sob um traje camaleônico, e passa o dia vigiando a si e seus próprios companheiros, que não batem bem da cabeça, em momentos muito divertidos, especialmente aqueles a cargo de Robert Downey Jr. e Woody Harrelson, junkies, seres à deriva e tomados por uma paranóia progressiva. Observando o seu comportamento e o dia-a-dia de outros por meio de um scanner, vai também se alienando, e sob efeito da droga, outra personalidade emerge, outro Fred (ou Bob), aumentando também a sua paranóia até um final surpreendente e aberto.
Muita verborragia, bem ao gosto de Richard Linklater (Jovens, Loucos e Rebeldes, Antes do Pôr-do-Sol), o que atrapalha um pouco o andamento da história, e um traço existencialista bem evidente e um tanto rançoso, riponga, da mesma forma que em Waking Life (2001), filme que partilha similaridades formais com este Scanner. Um visual deslumbrante e já muito comentado pelo uso ostensivo da rotoscopia, que faz as imagens animadas parecerem como que emergindo de um sonho e se confundindo com a realidade cada vez mais obliterada do protagonista. Mas falta algo. A forma engessa um pouco o trabalho, que não humaniza os personagens, sobretudo o de Fred (ou Bob?), e não flui como deveria. Ainda assim, fascinante e fiel ao universo do autor, que é citado ipsis litteris nas telas finais.
2 comentários:
Que bom que estreou! Achei que iria direto para o DVD.
Beijo.
Estreou na sexta, só duas cópias e em salas pequenas. Um beijo.
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