sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Vênus

(Venus, Reino Unido, 2006)



Velhos hábitos, na vida dos velhos atores Maurice (Peter O´Toole) e Ian (Leslie Phillips), ainda bem conhecidos no mundo do teatro, mas não pelos mais jovens. A ida ao mesmo café de décadas, os mesmos amigos de décadas e que agora, um a um, passarão a ocupar, em vez das páginas dos espetáculos, as do obituário nos jornais.

Vinda do interior, uma jovem (Jodie Whittaker), sobrinha-neta de Ian, que a vê com horror em suas atitudes moderninhas, dará no entanto algum alento ao dia-a-dia de Maurice, decano, mas ainda bem lúbrico, que flertará com ela sem a menor hesitação, já que ela será bem permissível a alguns avanços dele, num certo limite. Aos poucos, porém, ele contemplará a sua própria finitude, ao ser operado da próstata, o que o deixará impotente, mas não menos desejoso de possuí-la. Além disso, quando o fim parece mais próximo, agirá um pouco à maneira do personagem de Michel Piccoli no filme de Manoel de Oliveira Vou para Casa (2001), tendo que fazer cada vez mais esforço para interpretar uma cena num filme de época, por exemplo. Ou um cadáver, simplesmente, numa série televisiva, em seqüência bem irônica.

Apesar dos esforços de Roger Michell (Um Lugar Chamado Notting Hill) e do roteirista Hanif Kureishi (Minha Adorável Lavanderia, Sammy e Rose, Intimidade) em criar momentos genuínos de ternura no relacionamento ora tumultuado, ora afetuoso dos dois, mas que não dispensará certas safadezas da parte de Maurice e doçuras um tanto ríspidas da parte dela, além do humor decorrente das conversas entre ele e seus velhos amigos, temperadas com o bom humor inglês de sempre, o filme é todo de Peter O'Toole, recitando magnificamente a poesia de Shakespeare e ainda encantado com as belezas femininas que parecem eternas, tal como vistas no quadro da Vênus de Velázquez, que ambos contemplam certa feita na National Gallery de Londres. Ou quando tenta bisbilhotá-la, na cena em que posa nua timidamente para artistas. Ou mesmo quando ainda se mostra respeitoso com a ex-mulher (Vanessa Redgrave), vítima de suas infidelidades constantes. Momentos também que soam como uma despedida e uma celebração solene de uma vida plena, com todas as suas virtudes e pecados, também. Constrói-se assim um filme agradável, cheio de pequenos encantos, sobre a vida finita e o desejo sem fim, em seus limites cinematográficos não muito ambiciosos.

Sem comentários: