terça-feira, fevereiro 13, 2007

A Rainha

(The Queen, Reino Unido/França/Itália, 2006)



O retrato da rainha Elizabeth II, acadêmico, sisudo, pintado logo no começo do filme, vai ganhando volume ao longo deste formidável trabalho de Stephen Frears (The Hit, Ligações Perigosas, Sra. Henderson Apresenta), que põe em perspectiva a vida íntima dos monarcas britânicos para além daquela retratada pela mídia sensacionalista ou pelo escárnio caricatural dos antimonarquistas.

O “ano horrível” (Annus Horribilis) da rainha Elizabeth II (Helen Mirren) começa com a morte da princesa Diana, uma crise em que se vê acuada entre as tradições, mantidas com o maior rigor e austeridade por ela, e a pressão crescente da mídia, que a pinta como vilã de toda a tragédia e a joga contra a opinião pública, ainda que Diana não fizesse mais parte da família real. Tony Blair (Michael Sheen), recém-eleito primeiro-ministro do Reino Unido com um discurso modernizador pelo Partido Trabalhista, após 18 anos de predomínio dos Tories ou Conservadores, vê a chance de encorpar ainda mais a sua popularidade, ao intermediar a crise entre a imprensa e a monarquia, o que forçará a rainha a ceder para não ver seu reinado abalado. A rainha e a monarquia britânica nunca mais seriam as mesmas. Ou seriam?

Em cena notável, logo no fim, em frente ao Palácio de Buckingham, Frears demonstra com a maior reverência que há ainda algo de fascinante nessa rainha, uma mulher forte, discreta e que carrega o peso simbólico das sólidas e imutáveis tradições, muito maiores que ela, o que acabará por atrair para seu alcance Blair, mero manipulador da mídia, esta mutável de acordo com os ventos que um dia poderão não mais soprar a favor dele, pois afinal “ministros passam, a realeza permanece”, como afirmará a rainha num dos muitos afiados diálogos deste filme dirigido com precisão por Frears, hábil em mesclar ficção com imagens reais das TVs e dos jornais, sem se render ao sensacionalismo destes, e austero o suficiente para pôr em evidência os talentos de todos os atores e do texto de Peter Morgan (O Último Rei da Escócia). Mas claro que nada é mais deslumbrante que a atuação de Mirren, construída com gestos e expressões mínimas, que a câmera nunca intrusiva de Affonso Beato sabe captar com suficiente economia para que nos curvemos também a ela ao final. Tudo, porém, sem pompa, nem circunstância.

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