
A despedida de Jet Li dos filmes de artes marciais ou wushu, estilo que o consagrou, abre já em pleno combate, num torneio na Xangai dos anos 10, onde ele, como Huo Yuanjia (que realmente existiu) será o solitário oponente chinês contra os lutadores de potências ocidentais e do Japão, que querem dominar e dividir a China entre si. Em seguida, em flashback, narra-se a trajetória deste lutador baixinho, filho de um sábio mestre das artes marciais de Tianjin, que, no entanto, se recusa a educá-lo para o combate. Secretamente, apenas na presença do estudioso amigo Jinsun, passará a treinar com a motivação maior de encher de porrada os coleguinhas que o humilham, sobretudo depois que vê o pai perder uma luta num torneio. Já adulto, e de combate em combate, dominando todo tipo de arma (facão, espada, lança, sansetsukon ou o nunchaku de três seções, etc.) e estilos, se tornará invencível na cidade e, arrogante, assumirá a escola do pai e arranjará uns discípulos encrenqueiros. Numa briga no restaurante de Jinsum (Nong Yong), matará seu mais forte oponente. Como retaliação, sofrerá a grande derrota de sua vida: o massacre da família. Pára de lutar, partindo pelo mundo como uma espécie de lutador renegado, até finalmente se dar conta da profundidade e da humildade dos ensinamentos paternos, ao plantar arroz numa aldeia ou enamorar-se de uma bela camponesa cega, e retornar à cidade como fundador da Federação Chin Wu de Esportes, que democratizaria as artes marciais, antes enclausuradas nos templos, academias militares e escolas, e que existe até hoje, e para a redenção no torneio final.
Bela produção, cenários de encher os olhos, algumas excelentes lutas a cargo mais uma vez de Yuen Woo Ping (Matrix, O Tigre e o Dragão, Kill Bill), aqui mais físicas e menos acrobáticas, não me empolgou, no entanto. Talvez pela repetição dos estilos de combate e de coreografias já encenadas em outras produções estreladas por Li, e muito mais enlouquecidas e delirantes, como Era Uma Vez na China (1991), de Tsui Hark, e The Legend (1993), de Corey Yuen. Talvez pela direção meio frouxa de Ronny Yu (Freddy vs. Jason), entregando algo muito óbvio e conciliador no final. Tinha que ter partido para arregaçar com tudo, em minha opinião. Às vezes até consegue, mas graças a Jet Li que a Ronny Yu. E que fosse tudo filmado de forma épica e triunfal, exaltando os combates, a glória do guerreiro, e não pasteurizada, repetindo luta atrás de luta, sem muita convicção, afinal trata-se da despedida de um astro lutador. E nem o arrependimento de Huo Yuanjia, que passará a proferir com insistência todos aqueles “sábios” ensinamentos que soam mais como frases lidas de biscoitos da sorte chineses, chega a ser especialmente convincente ou comovente depois de tanta arrogância demonstrada na primeira parte do filme. Mas Jet Li é sempre Jet Li. Filme que pede revisão, de qualquer forma. Não é sempre que se vê Jet Li lutando nas telonas, na sua língua original. E agora, menos ainda. Ou nunca mais, como diria um bom escorpiano.