(Little Children, EUA, 2006)
A melancolia perene dos subúrbios ricos da América com um final mais alentador, ma non troppo, onde as “criancinhas” do título original são os adultos eternamente infelizes que, entocados nesse universo que se fecha sobre si mesmo, passam o dia a fofocar maldades no playground ou na piscina pública, a formar, entre uma partida e outra de futebol, patrulhas para atazanar supostos molestadores, a masturbar-se na Internet ou simplesmente preencher o vazio do casamento ou da existência com relações adúlteras. Nenhuma novidade, mas boa atmosfera no uso de close-ups, que acentua ainda mais esse ambiente claustrofóbico, e justas interpretações, como as de Kate Winslet, uma esposa adúltera inspirada em Madame Bovary; de Patrick Wilson, como Brad, o marido de Jennifer Connelly e também “dona-de-casa”, que se envolve com Winslet e observa, com nostalgia infantil, o dia-a-dia de skatistas diante da bilioteca onde deveria estar estudando para prestar (ou protelar mais uma vez) o exame da ordem dos advogados; além de Jackie Earle Haley como a trágica figura do molestador infantil, ele mesmo uma criança desamparada de 40 anos, cuja atuação rende momentos de asco e também de ternura, sobretudo quando contracena com a mãe (Phyllis Somerville), sua única companhia. As crianças de fato são meio que deixadas de lado pelos pais, ou servem mais de pretexto para promover a aproximação ou o afastamento entre os indivíduos.
Invariavelmente os personagens se cruzarão, uma certa tensão se faz presente em cada cena, nos olhares, nos gestos, convergindo para o desfecho conformista e não tão satisfatório. Mesmo assim, a narração plena de ironia trata de fazer o contraponto com as imagens de lares e seres arrumadinhos só na aparência, num mundo de onde parece não haver escapatória ou alívio, nem pelo adultério, e que o diretor Todd Field calmamente trata de impregná-lo com os mesmos tons sombrios de seu filme anterior, Entre Quatro Paredes (2001).
4 comentários:
Esse odiei David, já o anterior eu adoro...
Eu gostei. Estou até lendo o livro de Tom Perrota, que colaborou com o roteiro do filme e que é bem mais mordaz. Um abraço.
Apesar do desfecho conformista e moralista, achei um ótimo filme.
Beijo.
O desfecho conformista, goste-se ou não, é apenas um reflexo dessa nossa geração, acima dos 30. O pior foi o fato do mais esquisito ter sido penalizado. SPOILER: Já sem a mãe, apenas consumou sua castração.
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