(That Forsyte Woman, EUA, 1949)
Errol Flynn, em papel atípico, estrela este melodrama sombrio da MGM, que tenta com moderado sucesso condensar o livro Man of Property, primeira parte de The Forsyte Saga, de John Galsworthy, retrato da burguesia ascendente na Inglaterra do final do século XIX e de suas infelicidades, sobretudo conjugais. Aqui, Flynn é Soames Forsyte, o “homem de posse” do título do livro, advogado bem-sucedido de uma emergente família londrina, que após apropriar-se de quadros, casas e propriedades finalmente “assume” a posse de Irene (Greer Garson), professora de piano de cabelos vermelhos, ou melhor, ruivos, e rosto dos mais cândidos. Isso depois de muita insistência. Mas Irene, ainda que mulher liberal, só se rende à união com Soames por segurança financeira, como muitas ladies fazem ainda hoje. Por isso, não demora, e seu coração começa a pulsar pelo arquiteto pobretão, Philip Bossiney (Robert Young), que está prometido para a sobrinha de Soames, June Forsyte (Janet Leigh). Irene, no entanto, está disposta a enfrentar a reprovação social dos esnobes londrinos, largar Soames, a quem nunca amou de fato (será?), e procurar seu caminho em outro lugar, com ou sem o suposto amante. Em Paris, por exemplo. Só que acaba magoando June, que se vinga denunciando a Soames um encontro furtivo entre os dois, com desdobramentos trágicos. Toda a história é narrada pela ovelha negra da família e pai de June, Jolyan (Walter Pidgeon), pintor fracassado, que mesmo afastado há tempos dos inúmeros eventos sociais dos Forsyte, acompanha a tudo e a todos de perto e, também, claro, se enamora à primeira vista de Irene, ajudando-a mais tarde. Só que conquistar a mulher que se ama, como sói acontecer, é um outro problema, e que nada tem a ver com dinheiro ou posse. Mesmo hoje em dia.
Uma produção e tanto, com cenários exuberantes, figurinos indicados ao Oscar e bom uso do fog londrino, constantemente relacionado a essa zona nebulosa característica dos sentimentos humanos, mas que se precipita em sua parte final, quando tenta resolver rapidamente toda uma série de laboriosos conflitos. Mas, mesmo com as esperadas simplificações no enredo, retém boa parte da essência do livro na atmosfera evocativa e em muitos dos diálogos, sobretudo quando Flynn, elegante, e Garson, muito bela, estão em cena, assim como em cena-chave entre Garson e Robert Young, revelando uma notável química entre os dois. Faltou, no entanto, um Joseph L. Mankiewicz no set, cineasta que filmava “falas” como ninguém, para que o filme atingisse a estatura de um clássico. Ainda assim, este filme do pouco notado Compton Bennett é uma bela introdução ao romance detalhista de Galsworthy, escrito sob a clara influência de autores (Flaubert, Tolstói, etc.) que tanto se esmeraram em contar histórias de famílias infelizes. E infelizes “cada uma a sua maneira”.
Sem comentários:
Enviar um comentário