(Das Parfum: Die Geschichte eines Mörders, Alemanha/França/Espanha, 2006)
...as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas.
Patrick Süskind – O Perfume
Neste nicht so gut drama de época, na tentativa de abarcar todo o romance do tedesco Patrick Süskind, com as reviravoltas e toda a erudição da trama, sua essência (a obsessão de um serial killer), digamos assim, fica um tanto diluída na longa duração. Mas o começo é muito forte, registrando em flashback o nascimento do perfumista Jean-Baptiste Grenouille (Ben Wishaw) em meio a peixes estragados e vísceras de animais podres no fétido mercado de Paris do século XVIII, de onde é levado para um orfanato e onde descobrirá uma apurada capacidade para distinguir odores. Mais tarde é vendido para trabalhar num curtume e depois como aprendiz do perfumista italiano Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman). De lá, parte para Grasse, na Provença, terra da lavanda, para aperfeiçoar-se na arte da enfleurage, alimentando uma obsessão doentia de descobrir a essência do amor que possa ser engarrafada. Como nenhum requinte existe sem perversão, a matéria-prima dessa fórmula será obtida a partir da essência extraída de belas jovens por ele assassinadas, o que colocará a região em estado de pânico e forçará o mercador local, Antoine Richis (Alan Rickman), a fugir com sua linda filha de olhos azuis e cabelos vermelhos, ou melhor, ruivos, Laura (Rachel Hurd-Wood), obsessão maior de Jean-Baptiste, que a seguirá por meio de seu desenvolvido olfato até um final de transe coletivo.
É forte também na ambientação e elegante nas belas composições visuais, que lembram Théodore Gericault, Rembrandt e o fotógrafo americano Spencer Tunick, entre outros. Mas quadros sozinhos não sustentam um filme inteiro, em que claramente transparece a mão pesada do produtor Bernd Eichinger (A Queda, A Casa dos Espíritos, O Nome da Rosa, O Quarteto Fantástico) no andamento convencional da história (com narração em terceira pessoa, reiterativa, que explica o que as imagens já mostram) e na direção meio frouxa de Tom Tykwer, que também colaborou com a trilha e o roteiro e que pouco lembra aqui o cineasta que um dia fez o pós-moderno e ritmado Lola Rennt (98). De qualquer forma, uma película mais para ser vista que sentida, que deve agradar sobretudo aos fãs puristas (e intransigentes) do best seller e cujo final remete diretamente ao admirável clássico De Repente no Último Verão (1959), de Joseph L. Mankiewicz.
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