quinta-feira, janeiro 04, 2007

Em Direção ao Sul

(Vers le Sud, França/Canadá, 2005)



Tristes trópicos. Triste filme. Em meio à trama que versa sobre turismo sexual para mulheres de meia idade no Haiti de Baby Doc, há muita verdade nos depoimentos de três delas, especialmente no da doce americana Brenda (Karen Young). Ou, em certo momento, no de Albert (Lys Ambroise), conformado gerente do hotel em que elas se hospedam, e cuja fala vai no sentido oposto ao das imagens mostradas. Charlotte Rampling, a abelha rainha do grupo e grande presença em cena com seus profundos olhos azuis, encarrega-se de uni-las e também de afastá-las na disputa em torno do negro local preferido de todas, Legba (Ménothy Cesar), ser que paira entre a aparente boa vida no resort e a convulsiva realidade política e social do país. De resto, o bom diretor Laurent Cantet (A Agenda), num olhar amargo, registra sem ser panfletário o Haiti miserável de sempre, ainda que de belas praias, sensual, ensolarado, possuidor de toda uma natureza exuberante que é indiferente às almas, ricas ou pobres, brancas ou negras, que ali sem distinção se auto-imolam. Os afetos que unem todos no começo, os separam mais tarde. Desejando o paraíso, essas mulheres dão de cara com o inferno, disseminado aqui e ali nas relações interpessoais não destituídas de racismo ou de inveja e ciúmes e na violência cotidiana que, aos poucos, vai se infiltrando até no mundo dos mais abastados. Ao final, movendo-se em águas suaves, sempre “em direção ao sul”, ao Éden sexual buscado pela solitária Brenda, seu olhar permanentemente melancólico parece contrariar a natureza otimista de seu pensamento. Uma imagem que, enfim, persiste.

2 comentários:

Michel Simões disse...

Não me encantou, mas não deixa de ter coisas interessantes, e tem Ms Rampling, vale qquer ingresso!

Lorde David disse...

O desencanto que o filme provoca, sensação que continua mesmo após a projeção é uma de suas grandes qualidades.