(Brasil, 2007)
Para tratar da merda de um vilarejo no interior do Rio Grande do Sul, que contaminou o arroio local, moradores decidem pleitear uma verba no orçamento do município, destinada à realização de um curta-metragem, e usá-la para investir na fossa de tratamento dos dejetos. Mas, para isso, precisam escrever o roteiro e gravar cenas para o curta, um filme de monstro ecologicamente correto, que acaba saindo, claro, uma merda, mas bem engraçado em seu improviso e amadorismo e que serve de pretexto para o diretor Jorge Furtado (O Homem que Copiava, 2003) alfinetar a maneira como se faz cinema no Brasil, sempre dependente de dinheiro público e sempre a serviço de uma causa “nobre”. E a política, também. Ou seja, no final das contas, esgoto, política e, sobretudo, cinema brasileiro, com aqueles filmes que se pretendem socialmente engajados, são tudo a mesma merda, com o perdão do trocadilho infame.
Divertido quando se concentra na produção do filme dentro do filme, homenageando o cinema B à Ed Wood e a vontade de fazer cinema de guerrilha. Depois, alonga-se um pouco no desfecho. Ainda assim, o ótimo elenco, com Bruno Garcia, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Fernanda Torres, Paulo José, representando tipos engraçados e quixotescos, garante boas risadas, como sempre. E Camila Pitanga está gostosa, como sempre. Assiste-se com prazer, mas há algo que me incomoda nos filmes de Furtado, especialmente o fato de ele se prender demais ao roteiro, que é inegavelmente bem escrito, redondinho, buscando o efeito cômico a todo custo e sem dar espaço para as inconseqüências que uma história como essa pede. Até as supostas cenas erradas são muito bem arquitetadas e planejadas, e tiram parte do efeito subversivo ou irreverente que se quer causar espontaneamente. Mas isso é uma implicância minha e acho que tem a ver com as inúmeras exibições de A Ilha das Flores seguidas dos insuportáveis debates que eu era obrigado a encarar no primário, no colegial e, depois, na faculdade, ano a ano. Debates esses eivados de platitudes sob as eternas mazelas sociais brasileiras. Um saco! Por isso, até hoje fujo de debates, quaisquer que sejam. Mas nunca deixo de ver um filme de Furtado, ao menos.
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