quinta-feira, julho 26, 2007

Ascensor para o Cadafalso

(Ascenseur pour l‘Echafaud, França, 1957)



O primeiro longa do jovem diretor Louis Malle (então com 24 anos), nome importante da Nouvelle Vague, é um noir à francesa da clássica história da femme fatale (Jeanne Moreau, sempre maravilhosa), que, pelo telefone, em célebre cena ("Je t'aime, je t'aime"), envolve o amante (Maurice Ronet), um ex-capitão do Exército francês, para matar o marido, um rico negociador de armas para quem ele trabalha, fazer parecer suicídio e ambos fugirem com o dinheiro. No entanto, após executado o plano, ele ingenuamente esquece de um detalhe. Ao voltar para o prédio para sumir com a evidência, fica preso no elevador. Numa espiral de acontecimentos absurdos, enquanto sofre para sair do ambiente de confinamento, prenúncio de seu destino final, tem o carro roubado por um casal de jovens inconseqüentes que, numa noite de farra, acaba cometendo outro crime brutal. Enquanto isso, sua amante vaga melancólica pelas ruas de Paris, sentindo-se abandonada, e ele, ao amanhecer, é acusado do crime cometido pelos jovens, mas seu álibi repousa no outro assassinato. Situação difícil, que Malle conduz de maneira límpida, com notável rigor e clareza, ajudado pela trilha incidental e jazzística de Miles Davis e, sobretudo, pela fotografia em preto-e-branco de Henri Decae, registrando em locações uma Paris noturna e de texturas inebriantes, numa mise-en-scène cuja atmosfera emula Pacto de Sangue (1944), O Destino Bate à Sua Porta (1946) e o Bresson de Um Condenado à Morte Escapou (1956). Não deixa também de evidenciar o turbulento contexto político do período, ao colocar na boca dos personagens referências críticas às guerras coloniais na Indochina e na Argélia. Um detalhe: os amantes aqui nunca se encontram. Apenas no final são mostrados reunidos numa foto, que sela o destino dos dois.

2 comentários:

Ailton Monteiro disse...

Deu pra ver que vc é fã da Jeanne Moreau..:)

Lorde David disse...

E ela participou do filme do Antonioni, A Noite. Acho que nenhuma outra se mostra tão entendiada ou melancólica tão bem quanto ela.