(Clash by Night, EUA, 1952)
Mesmo não sendo a mais bonita do star system hollywoodiano dos anos 40 e 50 (a latina Rita Hayworth é hors concours), a diva Barbara Stanwyck sempre foi para mim uma mulher sexy direto das sombras do passado. Não à toa perturbou o bom moço Fred MacMurray, ao aparecer coberta apenas por um lençol e com o cabelo platinado em Pacto de Sangue (1944), de Billy Wilder. Ou, em Bola de Fogo (1941), de Howard Hawks, mexeu com o intelecto (e com outras coisas, também) do todo certinho Gary Cooper, com quem já havia trabalhado antes em Adorável Vagabundo (1941), de Frank Capra. Aqui, provoca grandes tormentas, conforme anuncia a seqüência de abertura deste filme do genial Fritz Lang, baseado em peça de Clifford Odets, ao chegar numa vila de pescadores, com as ondas sempre batendo nos rochedos e as nuvens anunciando tempestades. Viúva e arruinada, sem direito a um tostão da herança do falecido marido de Pittsburgh, volta para a casa do irmão pescador. E, com um emurrão do irmão, casa-se com o bondoso e simplório pescador Jerry (Paul Douglas), que cuida do pai doente e que ainda tem que agüentar um tio bêbado que dá conselhos mal-intencionados. Mas o coração ou o desejo dela bate mesmo pelo cínico (e casado) projecionista de cinema Earl (Robert Ryan), amigo de Jerry. Logo no primeiro encontro entre os dois, numa simples troca de olhares na cabine de projeção, percebe-se a atração mútua, o erotismo, o desejo velado. E assim, mesmo comprometida e com uma filha no colo, ela mantém o romance com Earl. Ao descobrir, ou já sabendo há tempos, o bom moço Jerry vira fera, libera sua fúria destrutiva, incontrolável. Como em Desejo Humano (1954), livremente baseado em A Besta Humana, de Zola, um melodrama de tinturas sombrias, com indivíduos que se movem por impulsos bestiais que levam à paixão, ao desespero e ao limite da morte, acionados, claro, pela presença de uma bela mulher, forasteira sofisticada como a Blanche de Um Bonde Chamado Desejo, elemento desestabilizador, num lugar regido, de um lado, pelas leis da natureza, que determina a época da pesca, e, de outro, pela orientação mecânica das máquinas e esteiras que todo dia transportam os peixes para o processamento, filmadas em tons naturalistas, quase como no universo mecanicista de Metrópolis (1927), pressupondo uma ordenação enganosa logo nos primeiros minutos de projeção. No final, prevalece a fúria das ondas. Belamente fotografado, em tons expressionistas, assinatura de Lang, com diálogos mordazes e de forte subtexto sexual, conta ainda com a presença de Marilyn Monroe num papel pequeno e desglamourizado de operária da fábrica local de processamento, cunhada de Stanwyck e fascinada por sua sofisticação de cidade grande.
2 comentários:
Estou me devendo há tempos umas peregrinação pelo cinema de Fritz Lang. Pode ser que eu faça isso quando terminar esse passeio pelos filmes de Ford que estou fazendo aos poucos agora.
Acho esses filmes ditos menores da fase americana de Lang os mais interessantes e os que têm mais a ver com as suas obsessões em relação aos impulsos humanos.
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