quarta-feira, julho 04, 2007

O Despertar de uma Paixão

(The Painted Veil, EUA/China, 2006)



Um amor, não uma paixão, essa coisinha de adolescente boboca, e que surge aos poucos, nesta história tradicional, baseada em romance de William Somerset Maugham (Servidão Humana, Adorável Júlia, O Fio da Navalha), mas muito bem conduzida por John Curran (Tentação, 2004), em que um médico ocidental servindo em Xangai (Edward Norton), traído pela mulher (Naomi Watts), que a princípio não o ama, vinga-se dela aceitando o posto de diretor de um hospital no longínquo interior da China, uma região devastada pela epidemia de cólera e ameaçada pela guerra civil entre nacionalistas e comunistas. Para evitar um divórcio escandaloso em meio à sociedade burguesa do final dos anos 20, ela se vê obrigada a ir com ele. E o filme já se inicia com a penosa ida à região, para então retroceder. À maneira dos filmes de James Ivory (Vestígios do Dia, 1993), com bela, mas nunca acadêmica ou entediante reconstituição de época, o médico se encarrega de erradicar a doença. E a sua esposa, até então tratada por ele com indiferença e em meio às hostilidades e solidão do lugar, aos poucos vai se encantando com seu trabalho. E com ele, sobretudo. Reconquista-o. E o amor é mútuo agora, neste filme elegante, atento especialmente aos olhares e aos mínimos gestos dos dois magníficos protagonistas, sobretudo a nuançada interpretação de Naomi Watts, aqui morena, num papel que já foi de Greta Garbo (1934) e da ruiva Eleanor Parker (1957). O amor é mesmo coisa para maduros, como diria Drummond. E brota devagar, construído com delicadeza, com sacrifício até. Filme de sensibilidade rara, que parece anacrônico em seu discurso old fashion em tempos de amores expressos e afetos à deriva. Mas só parece.

2 comentários:

Anónimo disse...

Também gostei muito do filme. Simples, bastante fiel ao espírito literário, com boas interpretações e um trilha linda.

Olha, parabéns por não cair no papo do Cláudio Assis. Vi lá no blogue do Ailton.

abraço.

Lorde David disse...

Fala, Chico. Seja bem-vindo ao meu feudo, hehehe. Sim, gostei bastante do filme, especialmente por causa desse espírito literário, evocativo de épocas mais românticas, mas sem soar açucarado ou antiquado. Quanto ao filme do Assis, nem tive vontade de comentá-lo por aqui. Só de pensar nisso, ficava cheio de preguiça, hehehe. Um abraço.