quarta-feira, julho 25, 2007

Algo Como a Felicidade

(Štěstí, República Tcheca/Alemanha, 2005)



Por quanto tempo prevalece a sensação de felicidade (Štěstí, do título original)? Para as jovens pessoas de uma triste cidadezinha industrial no interior da República Tcheca, com a paisagem dominada pelas torres dos reatores de uma usina nuclear, não muito. Mas o suficiente para impactar. E para tornar tocante este filme, que começa impessoal, mas vai mudando de tom, aproximando-se mais e mais de seus personagens, ao narrar a história de Monika que acaba de se despedir de seu namorado, que vai embora para a América. Apaixonada por ele, aguarda ansiosamente a chance de reencontrá-lo em São Francisco. Mas a sua vizinha, Dasha, obcecada por um homem casado (e um completo de um babaca), quando ele a larga, surta de vez e deixa dois filhos pequenos a própria sorte. Contrariando a mãe, Monika decide tomar conta das crianças com a ajuda de Tonik, que é apaixonado por ela desde jovem, mas que nunca tentou se aproximar demais dela. Sem muitas perspectivas na cidade, a não ser trabalhar na fábrica local ou ajudar a tia na pequena propriedade rural, caindo aos pedaços e prestes a ser engolida pela expansão da fábrica, ou ainda beber com o pai de Monika, Tonik forma com ela uma pequena e inesperada família na comunidade rural e vivem alguns dias de plena felicidade. Que é fugaz, no entanto, e suficiente para mexer com o marasmo local, com o coração da bela Monika e dar novo rumo a vida de todos. Mas, obviamente, não um rumo daqueles filmes românticos standard de Hollywood, daqueles fazem as mulheres supostamente adultas alimentarem fantasias adolescentes sobre príncipes encantados e quejandos. Ao se concentrar nos pequenos gestos, nas relações entre familiares ou da nova família que surge por conta do acaso, ao expor o cotidiano dessas pessoas sem grandes arroubos, registrando apenas, um filme que cresce em sua segunda metade e emociona sem ser melodramático. Um belo e surpreendente trabalho de contenção do diretor Bohdan Slama, onde a felicidade parece ser algo simples, repousando no encontro ou na aproximação inesperada com o outro, mas que, no entanto, escapa por conta até de mudanças no contexto local ou da noção de família, sobretudo nesses países em eterna transição do Leste Europeu.

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