(La Question Humaine, França, 2007)
Um psicólogo (Mathieu Almaric), diretor de RH da filial francesa de uma grande corporação petroquímica alemã, é chamado pelo vice-presidente para investigar em surdina o CEO da empresa (Michael Lonsdale, de Ronin, Sombras de Goya e Munique), que apresentaria um comportamento estranho. Como pretexto para reativar um antigo quarteto de cordas, do qual o CEO fazia parte como violinista, o psicólogo se aproxima do executivo, um homem cada vez mais melancólico e distante. No entanto, à medida que a investigação avança, outras coisas ligadas ao passado sombrio da Alemanha nazistas e, principalmente, dos carrascos voluntários de Hitler vão reaparecendo, tomando outro rumo, e o próprio psicólogo, antes eficientíssimo para cortar funcionários da empresa, começa ele mesmo a ter crises pessoais, neste filme de Nicolas Klotz que, sem estardalhaço, essencialmente longo e quase que inteiramente distanciado, como um relatório frio, aproxima as corporações multinacionais da máquina de extermínio nazista por apresentarem em comum um grande apreço na descrição de seus procedimentos pelo linguajar altamente técnico, especializado, planificado, típico de ditaduras, mesmo em se tratando da eliminação ou demissão de indivíduos (o que aqui dá no mesmo). Indivíduos como uma massa uniforme, em que se ignora a chamada “questão humana” ou simplesmente o rosto e a vida pessoal de cada eliminado, demitido ou investigado. No final, um monólogo em off, pronunciado num tom muito justo pelo ator Mathieu Almaric (de Reis e Rainha, Munique), confere a este filme soturno um travo ainda mais amargo, dando conta daquele horror planejado que, para os nazistas, era meramente uma “questão técnica”, sintonizando-o a estes nossos tempos de “reengenharia” e “reestruturação”. Excepcional.
3 comentários:
David, fica a dica URGENTE: não perca de jeito nenhum o filme En La Ciudad de Sylvia. É simplesmente O FILME da Mostra!
Puta filme do Klotz
Acho que um dos melhores do (pouco) que consegui ver, Michel.
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