quarta-feira, outubro 10, 2007

Propriedade Privada

(Nue Propriété, Bélgica/França, 2006)



Neste trabalho de contenção do diretor Joachim Lafosse, um drama familiar sem melodrama, discretamente os conflitos se insinuam na casa de Pascale (Isabelle Huppert), que, divorciada, mora com seus dois filhos gêmeos já bem crescidinhos e um tanto mimados, Thierry e François, numa propriedade no interior da Bélgica. Nos pequenos gestos cotidianos, registrados com algum distanciamento e rigor pelo diretor em longos planos estáticos, como tomar café, jantar, dar carona para os filhos, etc., pouco a pouco imiscui-se certa tensão, sobretudo entre os irmãos. Tensão que é acentuada quando Pascale, por conselho do namorado Jan, decide vender a casa e dar novo rumo a sua vida, o que obrigaria os irmãos a se virarem sozinhos. Antes, eles pareciam ser muito unidos e amigos, fazendo tudo junto, como andar de moto na lama, tomar banho ou atirar com espingarda de ar comprimido nos ratões de banhado que infestam o lago da casa. Em pequenos detalhes, as diferenças entre eles vão se acentuando, à medida que os conflitos vão emergindo, mas nunca explodindo. Quando, solerte, o pai os visita e lhes dá mais algum dinheiro, por exemplo, tensões afloram também na mãe, mas agora numa escalada irreversível. Aliás, toda vez que o dinheiro entra em cena, trazendo implícita a noção de propriedade privada como desagregadora dos laços familiares, ressentimentos não demoram a aparecer. Thierry se mostrará cada vez mais agressivo, ao contrário de François, mais calmo e resignado, até partirem de vez para o braço no desfecho aberto, filmado numa distância ainda maior, num filme em que o ponto de apoio é uma Isabelle Huppert também mais discreta que o habitual, mas eficaz e bela como sempre e plena de tensão latente, em sua incapacidade de lidar com a imaturidade dos filhos, com o ex-marido e até com o namorado.

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