segunda-feira, outubro 22, 2007

Planeta Terror

(Grindhouse: Planet Terror, EUA, 2007)



Do díptico Grindhouse, o (pouco) amado e (muito) odiado filme de Quentin Tarantino, À Prova de Morte, se integra muito melhor à estética e, principalmente, ao espírito dos filmes B cheios de riscos, cores indefinidas, cortes, engasgos e sujeira exibidos nos cinemas-poeira dos anos 70. Em seu filme, Tarantino é muito mais reverente e respeitoso com essas perólas do cinema B, como na eletrizante perseguição no final, no melhor estilo Corrida contra o Destino (71), ao mesmo tempo em que imprime na película toda riscada as costumeiras obsessões tarantinescas, como pés femininos, filmados em destaque logo no começo, trilha sonora característica, o tiroteio verbal coalhado de referências pop e ótimo aproveitamento do elenco, especialmente do veterano Kurt Russell, muito bem como o assassino das estradas, o sedutor Stuntman Mike. Já este, do factótum Tex-Mex Robert Rodriguez (Um Drink no Inferno, Spy Kids, Sin City), como grande fanfarrão que é, é mais uma grande paródia que homenagem a esses filmes que às vezes se levavam muito a sério, com todos os absurdos imagináveis de seus trabalhos anteriores, como Um Drink no Inferno e A Balada do Pistoleiro, na estória de uma arma química cujos gases liberados de uma base militar transformam a população de uma cidadezinha do Texas em zumbis famintos e cheios de furúnculos nojentos. Um grupo por algum motivo não afetado pelos gases, liderado por Freddy “El Wray” Rodriguez, tenta ir para o México, fugindo dos zumbis e depois dos militares causadores de toda a bagunça. Entre os sobreviventes, uma médica anestesista em fuga também do marido psicopata, um stripper e dublê de comediante que tem uma perna devorada pelos zumbis e depois substituída por uma metralhadora, um cientista cabeludo, um açougueiro dono de uma imunda e quase falida churrascaria de beira de estrada que, diz ele, serve a melhor carne do Texas (“The best in Texas”), seu irmão xerife, entre outros. E, ao longo da fuga, dá-lhe pernas e braços decepados, mulheres gostosas, cabeças estouradas, testículos pisoteados, testículos derretendo, sangue jorrando, mutilações, atropelamentos, tiroteios absurdos, Freddy Rodriguez como um ninja, depois como exímio atirador e habilíssimo piloto de minimoto (numa seqüência em que o cinema veio abaixo nas gargalhadas), Tarantino numa participação especialíssima como um muito “escroto” militar taradão e Bruce Willis, o líder dos militares, grotescamente revivendo Do Além (86). Tudo, claro, filmado de um jeito calculadamente tosco, com diálogos igualmente toscos e o colorido característico dos filmes Grindhouse, como numa cena de amor tão cafona entre Rodriguez e a stripper perneta que literalmente queima-se o filme. Podreira total, deliciosamente sem vergonha, possivelmente o melhor filme de Rodriguez e que ainda tem como bônus o ainda mais absurdo trailer do falso filme Machette, que só vendo para crer, e ótimas participações de atores ultimamente jogados em produções Z como Jeff Fahey e Michael Biehn e do maquiador especialista Tom Savini, como Tolo, o pior atirador da polícia. E do Texas, claro.

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