(Se, Jie, China/Hong Kong/EUA, 2007)
Laureado com o prêmio máximo no último Festival de Cinema de Veneza, este é o mais convencional dos filmes de Ang Lee (dos belos Razão e Sensibilidade e O Tigre e o Dragão). Mais até que o detestado Hulk, filme de que gosto bastante e que se parece em vários momentos com um gibizão em movimento. Ainda assim, a trama deste é envolvente o suficiente para prender a atenção em suas quase três horas de duração. Baseado em conto de Eileen Chang, é um melodrama histórico que versa, em vários e virtuosos flashbacks, sobre um grupo estudantil (e um tanto amador) de teatro revolucionário que, durante a ocupação japonesa na China dos anos 30, decide brincar de representar de verdade, infiltrando uma colega, a virginal Wong Chia Chi (a bela Tang Wei), como uma dama no meio da burguesa de Xangai, a fim de atrair e matar um importante figurão, Yee (Tony Leung), colaborador dos japoneses. A primeira tentativa fracassa e termina numa seqüência de assassinato a facadas quase hitchcockiana de um delator. O plano é então abortado. Para a frustração dela, que, entre uma partida e outra de mahjong com as senhoras da alta sociedade na casa da mulher de Yee (Joan Chen), e às vezes só com Yee, sentia-se cada vez mais atraída por ele. No entanto, mais tarde, nos anos 40, a missão é retomada e aí, um tema caro a Lee, o desejo incontrolável, de fúria quase bestial, se consuma com brutalidade em cenas de sexo violentas e quase explícitas entre os dois. Mas como em tantos outros filmes de Lee (até em Hulk), esse é mais um relacionamento impossível. E como todo filme de época, uma produção requintadíssima, ambiciosa, muito parecida com as que Zhang Yimou e Chen Kaige faziam melhor no começo dos anos 90, e luxuosa e detalhista fotografia do mexicano Rodrigo Prieto (Babel, O Segredo de Brokeback Mountain), mas é nas cenas mais intimistas, nos olhares trocados entre Yee e Wong, nos pequenos toques entre um e outro, nos detalhes de um anel admirado na joalheria, por exemplo, que o olhar de Lee se sobressai, mais até que nas tão faladas cenas de sexo, que não chocam tanto quanto chocavam as de O Império dos Sentidos ou as de O Último Tango em Paris à época, por exemplo. No geral, filme que me deixou um tanto indiferente, apesar de belo de se ver e, sobretudo, de se ouvir, graças ao maravilhoso tema musical de Alexandre Desplat (O Despertar de uma Paixão).
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