(The Bridge, EUA, 2006)
Um documentário aparentemente ousado na temática, em que a câmera voyeur do cineasta Eric Steel aguarda dia a dia observando a distância os transeuntes que atravessam a ponte Golden Gate, famoso cartão-postal de São Francisco e ponto preferido dos suicidas americanos, à espreita para registrar quem vai se atirar nas águas geladas da baía. E capta vários desses pulos, para satisfação da mórbida curiosidade do espectador, mais interessado em ver os infelizes se atirando que em entender por que Camus considerava o suicídio o único problema filosófico realmente sério. O diretor também não parece muito interessado em esclarecer o porquê da preferência pelo lugar ou dessa questão filosófica do suicídio em si, e o filme, entre um pulo e outro, coleciona depoimentos repetitivos dos familiares dos suicidas, que também pouco acrescentam e quase sempre caem na vala comum dos motivos médicos, da depressão à esquizofrenia e bipolaridade, ou sociais, como falta de maiores perspectivas na vida, etc. Em vez de uma meditação sobre a morte, esses testemunhos tornam-se, na verdade, longas sessões de desabafo emocional, banalizando o assunto em vez de transcendê-lo. Há, no entanto, um forte depoimento de um rapaz que sobreviveu milagrosamente à queda, tendo mudado de idéia no meio do caminho (!). Ainda assim, o motivo maior de tudo, a questão fundamental da filosofia, se a vida vale ou não ser vivida, tendo consciência de seu absurdo, de acordo com Camus, em O Mito de Sísifo, permanece oculta e morre imersa nas águas profundas do lugar. Ao menos, no final das contas, há um esforço para se evitar o sensacionalismo, e o filme caminha de maneira bastante equilibrada (sem trocadilhos, please!).
2 comentários:
O filme não deixando ninguém com vontade de pular da ponte, já tá bom demais.
Não, não deixa, o que acredito que deva ser desapontador para muita gente, hehehe.
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