terça-feira, agosto 21, 2007

Bubble

(Ha-Buah/The Bubble, Israel, 2006)



Com jeitão de sitcom em seu miolo, tipo Friends ou Will and Grace sabra, sobretudo por causa dos diálogos e citações marcadamente gay-pop, apesar da guturalidade do hebraico, um filme que aos poucos vai expandindo suas fronteiras para além do lado afetivo ou emocional, ao narrar, de maneira bem moderninha e econômica, a estória de um reservista gay que divide um apartamento com um amigo também gay e uma jovem hetero aspirante a atriz, e que, após presenciar um terrível incidente no posto de controle na Cisjordânia, onde servia, volta para a casa num bairro que é uma espécie de Greenwich Village da cosmopolita Tel-Aviv, ou a “Bolha”. Nesse lugar, a decana e sangrenta luta entre palestinos e israelenses parece não abalar tanto o dia-a-dia de seus descolados moradores. Mas só até o dia em que este reservista passa a ter um caso amoroso com um palestino que conheceu na fronteira naquele dia de infortúnio. Aí, ele e seus amigos tratarão de dar um jeito de mantê-lo em Tel-Aviv, mesmo ilegalmente, pois na sociedade árabe da Palestina, ainda mais intolerante com os gays, seu destino é mesmo se casar com uma mulher por pressões familiares e, eventualmente, participar de atentados contra israelenses, organizados por seu cunhado radical, apropriadamente chamado de Jihad. Assim a política volta a chacoalhar a vida desses moradores, que organizam até uma rave contra a ocupação israelense nos territórios. E aí ocorre um atentado sangrento. E aí o filme, tão leve no começo, retoma o esquematismo e o círculo vicioso das retaliações a bomba ou a tiros comuns no Oriente Médio, com trágicas conseqüências.

Um bom filme de Eytan Fox (Delicada Relação, 2003), bem franco e direto no tratamento da homossexualidade dos protagonistas de etnias rivais, mas que seria melhor se, em seu final previsível, optasse pelo perdão em vez da costumeira vingança tipo “olho por olho” que dilacera ambos os povos. Mas, nos dias atuais, em que ninguém parece disposto a perdoar nem deslizes verbais em sites virtuais de amizade, por exemplo, imagine então perdoar um atentado... Mas não custava, ao menos na ficção, propor isso. Seria uma alternativa surpreendente. Pois não é com bomba em cafés de Tel-Aviv ou incursões militares em Nablus, causando mais e mais mortes de inocentes e gerando mais ódio, que essa disputa quase secular vai ser resolvida, se é que um dia vai ser resolvida. Muito menos com rave movida a trancer e ecstasy, como ingenuamente acredita o trio de jovens da “bolha”.

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