sexta-feira, agosto 17, 2007

O Edifício Yacoubian

(Omaret Yacoubian, Egito, 2006)



Melodrama, ou melhor, novelão egípcio muito bem produzido de Marwan Hamed, com quase três horas de duração, que acompanha as alegrias e, principalmente, tristezas daqueles que moram ou trabalham no edifício do título, uma elegante construção neoclássica no centro do Cairo, remanescente dos tempos áureos da cidade, hoje decadente e cuja cobertura virou um grande cortiço. Entre os tipos do local, um velho engenheiro mulherengo, um “paxá”, como gosta de ser chamado, saudoso daqueles tempos mais elegantes, anunciado no segmento documental que abre o filme, e sufocado pela irmã possessiva, que quer lhe tomar o grande apartamento da família; um jornalista gay que tem um caso com um soldado casado, ousadia maior deste filme, ainda que as cenas envolvendo homossexualismo sejam bem pudicas; um dono de uma loja de veículos de luxo, que arruma mais uma esposa (maktub: por direito divino, qualquer muçulmano temente a Deus pode ter até quatro esposas de uma vez, de acordo com o que lhe afirma o xeque da mesquita que freqüenta, dando-lhe o aval desejado) e entra para a política, pagando um alto preço em ambos os casos; um jovem morador do terraço, ou “coelhário”, filho do zelador do prédio, que, recusado na academia de elite da polícia, adere ao movimento islâmico radical. Deixa também sua bela noiva, que pula de emprego em emprego por não suportar ser bolinada pelos gordos e sebosos patrões das lojas onde trabalha. De uma forma ou de outra, folhetinesca, sobretudo, os personagens se entrelaçarão, compondo um microcosmo um tanto acetinado da sociedade egípcia atual, a partir de um prédio, à maneira de Alila (2004), de Amos Gitai, sem a habilidade do grande diretor israelense (até nisso os israelenses superam os árabes, tóv meód, hahaha) e sem os extravagantes números musicais que costumam marcar as produções árabes, mas que se assiste com certo interesse e alguma curiosidade antropológica, sem, no entanto, grande entusiasmo, a ponto de sair dando cambalhotas pela rua no final da sessão, por exemplo. No conjunto, destaca-se a ótima interpretação do veterano ator egípcio Adel Imam, como Zaki El-Dessouki, o paxá playboy sessentão, que pinta os cabelos e sai por bares azarando mulheres bem mais jovens, que depois acabam lhe passando a perna, e que ainda tem uma longa e terna relação de amizade com uma elegante cantora-pianista de um restaurante de luxo, com quem relembra os bons momentos do passado “parisiense” da cidade e que lhe ajuda a descobrir que nunca é tarde para ser feliz. Ao menos, para os homens de uma sociedade eminentemente machista, como a dos países árabes. Creio que se o filme ficasse só nessa estória, seria bem mais tocante, divertido e, principalmente, menos cansativo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Davi, vc não quer fazer parte da seleção para a Liga dos Blogues Cinematográficos?

www.interney.net/blogs/filmesdochico

Lorde David disse...

Oi, Chico. Gostaria muito sim. Agradeço pelo convite. Vou dar uma passada lá. Um abraço.