terça-feira, agosto 28, 2007

Santiago

(Brasil, 2006)



Em belíssima fotografia em preto-e-branco, João Moreira Salles abre seu casarão, ou melhor, seu “palácio da memória” que dá para o palácio da memória do fascinante mordomo argentino da família, Santiago Merlo, hoje falecido. Misturando línguas e dialetos, dono de uma memória prodigiosa, durante mais de 30 anos e 30 mil páginas Santiago colecionou biografias de reis e rainhas de dinastias e aristocracias do mundo inteiro, tocou piano, rezou em latim, viu as lutas de boxe como as lutas dos gladiadores romanos no Coliseu, dançou com as mãos e serviu como um fiel súdito florentino a alta sociedade portenha e carioca, os seus Médicis e Bórgias da época. João retoma o material bruto de um filme seu começado há 15 anos e nunca terminado. Com as imagens fantasmagóricas ressuscitadas e influenciadas por Ozu nos rigorosos enquadramentos, faz um filme sobre si a partir de Santiago, sobre o descompasso entre a memória afetiva, que nunca nos abandona, e o tempo daquilo que fica para trás e, ainda que quase nunca consiga se desvencilhar da relação mordomo-patrão e também de certa auto-indulgência, obtém momentos preciosos, principalmente fora do quadro ou entre a preparação de uma cena e outra. Meditativo, melancólico, maravilhoso.

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