quinta-feira, agosto 02, 2007

Demência

(Dementia – Daughter of Horror, EUA, 1955)



Um começo que lembra Edward Hopper e Whistler, um clima onipresente de pesadelo, confundindo o tempo todo realidade com sonho e que se estende pela madrugada noir de uma mulher perturbada, sexualmente reprimida, que parece ter cometido um crime, encontra um anão jornaleiro, é perseguida por um detetive que espanca um mendigo bêbado que a assedia, revê os pais e seu trágico passado num cemitério até o desfecho bizarro num clube de jazz, cercada o tempo todo por espíritos malignos sem rosto. Inventivo, psicanalítico, concentrado no uso expressionista da luz e das sombras, com cenários muito bem reaproveitados pelo diretor John Parker, em seu único trabalho, de A Marca da Maldade (um dos atores que aparece em cena deste filme sem diálogos lembra muito o Orson Welles, inclusive), é uma jornada fascinante e obscura de uma mulher perdida em seu próprio labirinto, contada somente por imagens, em cenas que remeteriam diretamente a Bergman, Limite, Ulmer, Polansky e até a David Lynch, ainda que involuntariamente. Como curiosidade, para quem viu a versão de 1958 de A Bolha Assassina, com Steve McQueen, este estranho filme aparece sendo exibido na seqüência de ataque da criatura gosmenta a um cinema. Ou seja, um cult já bem prematuro.

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