quinta-feira, agosto 02, 2007

Rito de Amor e de Morte

(Yûkoku/Patriotism/Ritual of Love and Death/The Rite of Love and Death, Japão, 1966)



Um ritual de amor, outro de suicídio, num contexto nacionalista e moderno, mas que evoca tradições milenares da cultura japonesa. Em ambos os ritos, os amantes sem falar e ao som de Tristão e Isolda, de Wagner, se entrelaçam pelo falo, pela espada, neste filme curto, intenso e minimalista do escritor japonês Yukio Mishima (co-dirigido por Domoto Masaki), que também interpreta o oficial da Marinha Shinji Takeyama. Fiel às origens literárias, dividido em capítulos e com longas introduções escritas que expõem o contexto político tumultuado, após frustrada tentativa de golpe, Shinji retorna para a sua bela esposa Reiko (Yoshiko Tsuruoka), para praticar com ela o ritual de harakiri e morrerem com honra. Com poucos elementos em cena, apenas dois atores, quase estáticos e “extáticos”, emulando o teatro Nô, o filme explora, sobretudo, a intensidade dos olhares trocados entre ambos, especialmente os de Keiko, tanto na cena de amor quanto na hora da morte, mostrada com rigor ritualístico e detalhes explícitos. Poético na construção das imagens em preto-e-branco, uma espécie de prefiguração do suicídio do próprio e polêmico Mishima, encenado alguns anos depois e que seria revisitado por Paul Schrader no belo Mishima – Uma Vida em Quatro Capítulos (1985). Raro e inesquecível.

Sem comentários: