quinta-feira, agosto 09, 2007

Person

(Brasil, 2003)



Neste mundo atual de créditos de carbono e de comportamentos "são-paulinos", certinho, arrumadinho, complacente e, pior dos piores, politicamente correto ao extremo, em que qualquer impostura ou deslize lingüístico te expulsa de panelinhas, grupinhos, galerinhas, “tchurminhas", é sempre bom voltar à figura de Luís Sérgio Person, cineasta de espírito independente, sem papas na língua, que financiava seus próprios filmes, era avesso à panelinha do Cinema Novo, muito inquieto, autor de filmes inclassificáveis para a época do Glauber e do Cacá, como São Paulo S/A (1965) e O Caso dos Irmãos Naves (1967), duas rigorosas obras-primas, além de diretor de teatro e de comerciais, algo que soube largar com a sabedoria de sua impulsividade latente, quando dirigir reclames de 30” e esperar por horas na ante-sala dos "gênios da propaganda" já estavam enchendo a sua paciência, e, sobretudo, que sempre procurou nos filmes que dirigia diálogo com o público e com a época retratada, ao contrário do “gênio baiano”. Sua “persona” é revisitada neste pequeno filme, mais afetivo que documental, ainda assim intenso, dirigido com carinho por sua filha Marina Person, que procura compor a trajetória do pai por meio de trechos bem escolhidos de seus filmes, gravações de entrevistas antigas, depoimentos de amigos como Carlos Reichenbach, Raul Cortez, Ney Latorraca, Jorge Ben, José Mojica Marins, Jean-Claude Bernadet, Paulo José, etc., e principalmente recordações impressas em cartas e nos filmetes familiares de Super-8, que pontuam o documentário. Mais do que o cineasta, Marina, junto com a sua irmã Domingas, busca o pai que partiu muito cedo, morto num acidente de carro aos 39 anos, quando as duas eram bem menininhas. E Marina demonstra em cada cena o quanto sente falta dessa figura paterna. Além disso, a escolha dos trechos selecionados e as entrevistas, mais do que exaltar a figura do cineasta, rendem momentos divertidos, nostálgicos e, principalmente, comoventes, além de, mais importante, nos incentivar a (re)ver toda a obra de Person, que aos poucos é lançada restaurada em DVD pela Vídeo Filmes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Também gostei bastante do filme. Não só pelo personagem fascinante, mas pela maneira parcial, sem excessos, como muito filmado.

Lorde David disse...

E acho também que a escolha de filmá-lo em película, se não me engano, já demonstra um cuidado e um carinho todo especial de Marina pelo projeto. Um abraço.