sexta-feira, agosto 03, 2007

A Síndrome da China

(The China Syndrome, EUA, 1979)



Uma repórter televisiva (Jane Fonda), cansada de cobrir eventos frívolos, é escalada de última hora para fazer um especial sobre energia numa usina nuclear da Califórnia. Com um técnico de som e um cameraman irascível (Michael Douglas, também produtor) presenciam uma falha que faz tremer as fundações do lugar, o que é rapidamente esclarecido pela direção como uma falha técnica corriqueira. Desconfiado de que se trata de algo ainda mais catastrófico, o cameraman filma às escondidas o incidente, registrando toda a tensão da sala de operações, achando, junto com a reporter, que ambbos têm em mãos um furo. Com a recusa da emissora em levar ao ar as cenas, ele rouba o material filmado e submete-o à análise de técnicos de uma universidade. Descobre que o reator estava prestes a vazar, condição negada a princípio pelo chefe de operações (Jack Lemmon), que, no entanto, constata sozinho que todo o material dos tubos de resfriamento do reator estava comprometido, com fissuras, por conta de análises forjadas para efeitos de maximização dos lucros e início rápido das operações. Alerta feito, alerta ignorado, como em Congonhas. Mas, como sempre, os donos da usina, que não podem perder mais dinheiro com a sua paralisação, decidem retomar as atividades a plena capacidade, mesmo sob o risco de uma eminente “síndrome da China”, ou seja, a exposição do núcleo do reator e a elevação de uma nuvem de altos índices radioativos sob a Califórnia, que contaminaria o país por anos e anos. Douglas, Fonda e, sobretudo, Lemmon, terão que agir por conta própria, mesmo que isso imponha riscos as suas vidas e carreiras.

Um filme militante, consistente, típico do final dos anos 70, a serviço de uma causa nobre, ecológica na aparência, mas essencialmente contra os lucros e a ganância daqueles que permitem que algo tão complexo e perigoso funcione em condições precárias e sob altíssimo risco, mesmo com todos os alertas, mais do que contra a energia nuclear, além de alfinetar a conhecida obtusidade da imprensa e de seus gurus editorais. É bem conduzido por James Bridges, ainda que sem a ironia e o sarcasmo de Sydney Lumet em Rede Intrigas (76), por exemplo, onde todo mundo era oportunista e comprometido. Aqui os personagens-heróis são mais idealistas, éticos, até Fonda, que, no fundo não passa de uma carreirista, mas que funciona, sobretudo, por conta do ótimo elenco, do realismo ao mostrar o dia-a-dia das operações, sem apelar para a câmera tremida, em cenas que não envelheceram, e dos momentos de tensão, especialmente nos instantes finais, quando Lemmon invade armado a sala de operações do local, tentando desesperadamente alertar as emissoras sobre o risco do acidente e parar com tudo. Porém, como não consegue esclarecer sem apelar para o jargão técnico acaba sendo tachado de louco, com trágicas conseqüências. Premonitório à época, por ter estreado poucos dias antes do acidente fatal com o reator de Three Mile Island, na Pensilvânia, não deixa de ser também mais um clássico comum à época sobre grandes sistemas a beira do colapso, como em O Enigma de Ândromeda, Colossus e Westworld, entre outros.

2 comentários:

Michel Simões disse...

Gosto muito desse filme David!!!

Lorde David disse...

O assunto também sempre me interessou.