(Dominion: A Prequel to the Exorcist, EUA, 2005)
Nunca lançada nos cinemas, trata-se da tumultuada primeira versão de O Exorcista: O Início, inteiramente filmada para ser engavetada pelos produtores da Morgan Creek e posteriormente refilmada e emporcalhada por Renny Harlin. Aqui, mais límpida, pelas mãos seguras de Paul Schrader. Atmosférica e mais lenta também, é na verdade um drama conduzido com sobriedade sobre a culpa e a perda da fé que um filme de terror pura e simplesmente, quase ausente de efeitos espetaculares, embora eles estejam presentes em alguns fracos momentos. Na África, após presenciar um trágico evento pelo qual se viu como responsável em plena II Guerra Mundial, o padre Merrin (Stellan Skarsgård) já não mais exerce o sacerdócio. Sem fé, há anos abandonara a batina. Agora como arqueólogo, durante escavações na colônia inglesa do Quênia, local dos mais inóspitos, descobre uma magnífica igreja cristã medieval misteriosamente enterrada. À medida que as escavações avançam, descobre também que a construção era na verdade um templo de louvação a Lúcifer. Hienas surgem. Um bebê deformado nasce morto. É o mal que passa a emanar do local, infiltrando-se entre os nativos do vilarejo e os ingleses. Mal difícil de ser detectado, pois aqui não há vômitos, camas balançando, tetos rachando, gritarias o tempo todo, nem sobrevôos de câmera em cenários digitalmente construídos. Assim, o demônio aproveita e possui um garoto defeituoso, muito inocente e assustado e que vivia abandonado até ser recolhido e tratado pela médica do vilarejo (Clara Bellar). Hora de o exorcista Merrin, com a sua espiritualidade atormentada, entrar em ação, mas não sem antes enfrentar seus dilemas e as tentações do próprio demônio, algo mais difícil de ser exorcizado.
Tudo é muito discreto, misterioso e eficaz, pois Schrader, roteirista de Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e A Última Tentação de Cristo (1987) e diretor de Hardcore – No Submundo do Sexo (1979), Mishima (1985) e Temporada de Caça (1997), mais seguro nas discussões teológicas entre Merrin e o padre novato Francis (Gabriel Mann), por exemplo, preocupa-se essencialmente em desencavar o mal que existe no mundo e que aflige os homens diante de suas fragilidades, bem à maneira de Robert Bresson, que com os efeitos fáceis que abundaram na infame versão de Harlin e até na de Friedkin. No mínimo, interessante.
4 comentários:
Tive vontade de ver na época da realização. Agora passou a vontade...
Assisti-o por curiosidade e acho que o distanciamento em relação ã versão de Harlin, três anos depois, ajuda a apreciá-lo melhor. Schrader é um diretor meio irregular, nem sempre o elenco corresponde, mas neste filme há sim momentos interessantes, ao contrário da versão de Harlin, onde (quase) nada se salva.
Eu diria que nada se salva na versão de Harlin. Uma bosta completa.
E eu diria que só a fotografia do grande Storaro e o ator principal. De resto, um total desperdício.
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