quinta-feira, abril 05, 2007

Exilados

(Exiled/Fangzhu/Fongchuk, Hong Kong/China, 2006)



Uau! Era uma vez em Macau...

Uma das melhores coisas made in China a aportar por aqui nestes últimos (e infelizes) anos. Desde O Tempo e a Maré (2000), talvez. Uma fantástica mescla de western spaghetti com filme de gângster, na sólida tradição deste gênero tão cultuado dentro e fora de Hong Kong. Um quinteto de protagonistas dos mais carismáticos e divertidos. E vilões de tipos marcantes. Não adianta. É inútil poupar adjetivos a esta bela produção a cargo de Johnnie To (Eleição, Breaking News), que situa a estória em Macau, em 1998, um pouco antes da devolução da antiga colônia portuguesa para a China. Nela, quatro gângsteres ou pistoleiros devem eliminar Wo, um renegado de um poderoso chefão local que desistiu do crime para começar uma nova vida com a mulher e o filho pequeno. Até tentam fazer o serviço, mas acabam se juntando a ele, antigo colega deles, para eliminar outro chefão. Caem numa emboscada. Viram renegados ou os "exilados" do título. Sem dinheiro e com Wo seriamente ferido, são também perseguidos pelos dois principais mafiosos da ilha. Antigos rivais, estão para fechar um acordo para poderem operar sob a nova administração de Pequim. Unem-se na caçada aos pistoleiros mais por acidente que por afinidade. E é o acidente ou acaso e a sorte, no entanto, que decidirão o destino deles, em que a lealdade falará mais alto sempre.

Em momentos anticlimáticos, como no começo, calcado diretamente da espera inicial na estação de Era Uma Vez no Oeste (1968), To exalta os duelos operáticos, bem ao gosto de Sergio Leone, com similaridades na trilha sonora alla Morricone, onde a tensão arma-se aos poucos a partir da espera, que é, muitas vezes, mais longa que o tiroteio em si. Depois, nos inúmeros tiroteios belamente filmados e editados, segue-se o clássico balé das armas apontadas uma na cara do outro e disparadas bem ao gosto de John Woo, nos bons tempos, e de Ringo Lam. Tudo tão bem construído visualmente, aproveitando ao máximo a espacialidade do CinemaScope para contrapor ou aproximar os personagens em cena ou confiná-los em cantos de modo a encher as seqüências com muita tensão. Mas é bobagem falar mais. Rendam-se a estes gângsteres, ora sortudos, ora azarados, sempre bem-humorados, neste filme que beira à perfeição em sua geometria de antagonismos e que aproveita como nunca antes visto a bela arquitetura portuguesa de Macau. E também as paisagens desérticas fora dela, evocando diretamente o Velho Oeste.

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