terça-feira, abril 24, 2007

Inferno

(L’Enfer, França/Bélgica/Itália/Japão, 2005)



Depois do Paraíso (2001), de Tom Tykwer, o Inferno, segundo capítulo do tríptico Inferno/Purgatório/Paraíso, vagamente baseado na Divina Comédia de Dante, deixado em esboços por Krzysztof Kieslowski, ganha aqui, nas mãos do bósnio Danis Tanovic (Terra de Ninguém, 2001), uma versão mais próxima do que teria imaginado o mestre polonês, sobretudo no uso das cores, com o vermelho onipresente, na melancolia emanada pelas personagens femininas, nos vários indivíduos que são apresentados soltos e por alguma razão, em geral sombria, tem suas vidas interligadas no final. Até uma velha senhora, que na Trilogia das Cores tentava empurrar uma garrafa para dentro do lixo reciclado, reaparece, como se o diretor reverenciasse Kieslowski ipsis litteris. A princípio, frio e distante, cresce à medida que vai sendo narrada a melancólica estória de três irmãs, cada uma delas mergulhada num inferno pessoal ligado, sobretudo, à rejeição amorosa. Uma, solitária e insone, Cécile (Karin Viard), que cuida da mãe (Carole Bouquet), enferma e que não fala, em periódicas visitas ao asilo, nota que está atraindo a atenção de um estranho (Guillaume Canet). Outra, Sophie (Emmanuelle Béart, sempre bela), descobre que seu marido, um fotógrafo de moda, está tendo um romance com uma de suas assistentes. E a caçula, Anne (Marie Gillain), após um caso em que engravida, se vê abandonada por Frédéric (Jacques Perrin), seu professor na universidade, casado e pai de sua amiga. Não desistirá dele, no entanto. Até então sem se verem, uma trágica revelação ligada ao pai no passado as reaproximará. Três belas atrizes em imagens que se multiplicam como num caleidoscópio, acentuando as angústias e aflições que, mesmo no final, ainda persistem traiçoeiramente. O inferno mesmo é sofrer por amor, dentro ou fora da família.

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