segunda-feira, abril 02, 2007

300

(EUA, 2007)



300 guerreiros com ímpeto infinito para a batalha, nesta não mais história em quadrinhos ou gibi, mas graphic novel em movimento. Berrada e de tinturas extravagantes, escandalosas, com sangue espirrando digitalmente e tingindo a tudo e a todos, e onde o inferno parece estar em toda a parte e bem antes da hora do jantar anunciada pelo rei Leônidas, líder virtuoso dos espartanos, em certo momento da batalha contra um milhão de soldados persas vindos direto do número musical “Masquerade”, de O Fantasma da Ópera, filme em que Leônidas, ou melhor, Gerard Butler estrelou, e aos berros também. Guerreiros, espartanos até no traje, partindo para enfrentar a pesada couraça (e os piercings) do exército persa trajando apenas cuecas Zorba, o grego e sunguinhas Speedo, com barrigas saradas e as lanças em riste, contrariando a lei do Oráculo e do Conselho de Esparta. Lanças erguidas o tempo todo, contra apenas alguns milhões de flechinhas asiáticas e elefantes descontrolados, afinal THIS IS SPARTA! Pois nós, espartanos, é que somos os machos do Peloponeso a pegar nas lanças e não aqueles filósofos baitolas de Atenas que ficam paradões na Acrópole discutindo categorias do espírito ou metafísica, ou o Conselho de viadinhos de Esparta que não quer saber de mandar mais tropas de gregos de sunga para a boate gay Boca do Inferno, ou melhor, Termópilas, onde os persas, invasores meio burros na estratégia, são constantemente encurralados pelos poucos valentes homens do rei Leônidas. Ou seja, o kitsch está em toda a parte, lembrando os épicos fisiculturistas dos anos 60 (peplum), e isso faz do filme algo bacaninha de se assistir, ainda que caminhe de forma meio dura, não tão épica, nas mãos pouco fluidas do diretor Zack Snyder (do legal Madrugada dos Mortos, 2005), (mal) grudando digitalmente uma série de quadros a outros, lembrando às vezes Herói, às vezes Gladiador (a cena final mimetiza o filme de Ridley Scott, mas os gregos não faziam arte pela imitação ou mimese? e os romanos não copiaram tudinho dos gregos? então deixa para lá, vai!). E, por mais que a batalha seja travada por um ideal de liberdade (e testosterona), com belas palavras gritadas contra a escravidão e a tirania, é a vontade de descer logo o cacete nos persas que move estes homens marombados, militaristas, deixando de lado a política e a diplomacia, coisinhas de nada, convenhamos. Vontade que os escraviza desde criancinha, preparando-os para o lobo mau e para a guerra. Sempre. Isso se não nascerem deformados, pois aí ou vão direto para o precipício ou viram traidores corcundas de marca maior, juntando-se ao freak show carnavalesco do reino de Xerxes (Rodrigo Santoro). Mas, divago sobre este filme que vale a pena ser visto, sim, tem momentos visualmente exuberantes, ainda que no todo divida opiniões, dificilmente agradando a gregos, espartanos, troianos ou os iranianos de hoje em dia.

6 comentários:

Ailton Monteiro disse...

Genial o teu texto, David.

Lorde David disse...

Valeu, Ailton. Fico feliz que você tenha captado o espírito do texto. Um abraço.

Anónimo disse...

E aí, fofo? Não falei que eu ia entrar e ler? Pois é...promessa feita é promessa cumprida! Bom...falando sobre o texto, estou impressionada com a sua mais recente capacidade de alternar linguagens formais e cheias de informações historicamente relevantes com um palavreado um tantinho chulo e cheio de ironias. O texto fica atraente, leve, descontraído, sarcástico etc, etc, etc. Continue assim, queridão!! Um beijo.

Lorde David disse...

Hi, darling. My dear, você sempre soube o quão sarcástico eu sempre fui. Ora com moderação, ora com irritação, hehehe. Mas gostaria de escrever mais textos assim. Quem sabe atraísse mais as pessoas. Mas continuarei tentando, dependendo da musa inspiradora, um tanto ausente ultimamente. Beijos e obrigado por sua visita. Sem sarcasmos ou ironia. Juro.

Anónimo disse...

Ah, acho que você, ao contrário de muitos, não precisa de musa inspiradora para escrever. Você sempre consegue achar inspiração em vários cantinhos por aí afora. Eu acho é que a musa é quem tem que se inspirar naquilo que você escreve. Beijos

Lorde David disse...

Não necessitaria. É um mito isso tudo, como os signos do zodíaco, tipo tal signo não combina com outro. Pura bobagem, assim como as tais das afinidades eletivas. Mas gostaria de uma musa. E nem precisaria ser das mais inspiradoras, hehehe. Um beijo.