Um Bom Ano (A Good Year, EUA, 2006)
Em Gladiador, o desejo do general romano Máximo é voltar para a casa, para a família, voltar a ser um fazendeiro. Ou seja, retornar às raízes, depois de anos servindo com honra o imperador Marco Aurélio. Há o retorno, mas ele é tumultuado, o que dará outro rumo a sua vida, e dessa vez sem volta, selando o seu destino e o de Roma para sempre. Em Falcão Negro em Perigo, soldados americanos tentam voltar para a base, mas caem numa cilada. Alguns não voltarão mais. Em Thelma e Louise, duas mulheres tomam também um novo e inesperado caminho e não mais regressarão para suas vidas “normais”. São aventuras que fracassam, mas onde vale acima de tudo a aventura vivida, ainda que em proporções trágicas.
No mais recente filme de Ridley Scott, Um Bom Ano, aqui num registro mais leve, há também um novo e inesperado caminho surgido na vida do protagonista. É o caminho que leva Max Skinner (Russell Crowe, muito à vontade), típico canalha monetarista e inescrupuloso corretor da Bolsa de Londres, de volta à Provença, terra das férias de sua infância com o tio, o bon vivant Henry (Albert Finney), de quem havia se afastado. Com a morte deste, Skinner recebe a notícia de que agora é dono de todos os bens do falecido naquele local, incluindo a vinícola. Pega a estrada, em situações atrapalhadas, mas sabe-se de antemão que o retorno ao seu habitat de tubarões financeiros de Londres não mais se concretizará, como é bem simbolizado na cena em que o carrinho de Max contorna repetidas vezes uma pracinha em câmera acelerada, sem conseguir sair dali. Naquela região pitoresca do sul da França, tentando vender a propriedade familiar, é tomado por recordações felizes da infância em meio a vinhedos e ensinamentos do tio, que o fazem mudar de idéia, além de conhecer uma prima e encontrar a mulher de seus sonhos, fechando o filme com uma declaração de amor a ela das mais românticas.
Uma história já contada várias vezes, certo? Sim, mas admiravelmente bem narrada por Scott. Na verdade, ele e Russell Crowe parecem ter decidido dar um tempo nas produções mamute de época, tirar férias no sul da França e lá rodar um filme descompromissado. É o que transparece em cada minuto deste Um Bom Ano, adaptação do livro do jornalista Peter Mayle, amigo do diretor. É tudo tão relaxado, com um prazer de viver impresso em cada cena, que é difícil não sair do cinema leve, contente, com vontade de largar tudo e mudar-se para a Provença imediatamente. Ainda assim, Scott não descuida dos aspectos visuais que o consagraram, tornando cada cena uma pintura em movimento, com alusões a Cézanne, por exemplo, que tão bem retratou aquele local de singular luminosidade e encantos inebriantes.
4 comentários:
Ah, a declaração de amor do final... Foi nesse momento que comecei a chorar.
Lindo texto e ótima sacada a do recorrente tema do retorno/não retorno em outras obras de Scott.
Beijo.
Eis um fã de Ridley Scott. Hehehe. Ótimo texto, David!
Pois é, Ailton. Mesmo nos filmes ruins do Scott eu aprendo algo, como em GI Jane, por exemplo. Um dia, vou fazer um post em homenagem a este filme. Mas não conta pra ninguém,hein! Hehehe.
Alê, a declaração de amor de Crowe é o ponto alto do filme. Elegante, eficaz e dá até para acreditar que pode existir fora do cinema. Um beijo.
Eu odeio G.I. JANE..hehehe
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