terça-feira, dezembro 12, 2006

Zona de Conflito (Encounter Point, Israel/EUA, 2006)


Em Free Zone (2005), de Amos Gitai, Hannah (Hanna Laslo), em trajeto pela Jordânia, diz à personagem de Rebecca (Natalie Portman) que a única certeza em Israel é a guerra. Em Munique (2006), de Steven Spielberg, a vingança do governo israelense contra palestinos que mataram atletas da delegação do país nas Olimpíadas de 72 conduz a um ciclo sem fim de matanças, perpetradas pelos dois lados. Recentemente, centenas de mísseis disparados pelo Hizbollah, mais o seqüestro de três soldados israelenses, levaram Israel a bombardear os redutos ocupados pela guerrilha no sul do Líbano e em Beirute. Para os maniqueístas de plantão, judeus são os novos nazistas e os palestinos, os terroristas ou guerreiros a serviço de uma causa libertária, não importando o grau de violência empregada ou se civis são atingidos pelo fogo cruzado em Gaza ou destroçados por homens-bomba no mercado de Jerusalém ou Tel-Aviv. Enfim, uma causa que dilacera a todos e que deve ser vista além das simplificações ou mistificações da mídia e dos políticos.

Exibido na última Mostra de SP, Zona de Conflito é um documentário que joga um pouco mais de luz nessa interminável guerra. Como todo documentário, compõe-se basicamente de entrevistas com pessoas dos dois lados do conflito. A diferença é que aqui, em vez das habituais palavras de ódio, busca-se o entendimento mútuo, pois todos os entrevistados, tanto israelenses, quanto palestinos, têm em comum o fato de terem perdido familiares nessa guerra. Assim, as famílias dos dois lados promovem encontros regulares num centro comunitário de Jerusalém, buscando compartilhar essas trágicas experiências, esquecer o ódio e lançar sementes de paz para futuras gerações. Entre os entrevistados, chama a atenção o depoimento do articuladoAli Abu Awwad (foto), um palestino que cumpriu pena de vários anos em prisão israelense por participação na primeira Intifada, teve parentes que sofreram nas mãos (e botas) dos soldados de Israel e, mesmo assim, diz em palestras nas escolas dos territórios palestinos que ele, como adepto hoje da não-violência, não precisa amar os israelenses para viver em paz com eles, pois acredita que a tática do terror empregada pelos palestinos está equivocada, pois dela só advém mais sangue. No final, encontra-se com um ex-colono judeu que deixou os assentamentos na Cisjordânia por achar injusta e imoral a ocupação e que hoje tenta, da mesma forma que Awwad, convencer outros colonos a fazer o mesmo, o que dá ao documentário um desfecho otimista. Há outras histórias comoventes ao longo do filme, mas mais comovente é o empenho de lados opostos em se encontrarem, discutirem propostas de paz, ainda que em pequena escala, ou apenas conversarem sobre banalidades, demonstrando que palestinos e israelenses, ainda que em pequena proporção, fazem parte da mesma humanidade e compartilham as mesmas esperanças de entendimento.

Mas o mundo dos homens sempre foi um lugar injusto. Eu pessoalmente não acredito num desfecho feliz para esse conflito, pois todo tipo de negociação feita até hoje só resultou em impasse e mais confrontos. Ainda assim, o filme, dirigido pela israelense Ronit Avni e pela brasileira Julia Bacha (montadora de Control Room) vale como uma demonstração e tanto de alteridade, da mesma forma que Promessas de Um Novo Mundo, de Carlos Bolado, Justine Shapiro e B.Z. Goldberg (2001), e Notícias do Lar/Notícias de Casa, de Amos Gitai (2005).

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