O Monstro do Mar Revolto (It Came from Beneath the Sea, EUA, 1955)
Produção B das mais eficazes. Boa parte de seu clima convincente deve-se ao realismo buscado logo no começo do filme, que inclui cenas documentais de um submarino nuclear lançado ao mar e recriação fiel do trabalho dos marinheiros e seu jargão no navio quando atacado pelo monstro do título, na verdade um polvo gigante trazido das profundezas do oceano por causa de testes nucleares da Bomba-H. Além de gigantesco, o polvo é radioativo e imune a armas convencionais. Faminto, passa a atacar embarcações no Pacífico até atingir São Francisco, onde faz os esperados estragos na ponte Golden Gate e em outros cartões postais da cidade. Para detê-lo, mobiliza-se uma força militar liderada pelo capitão do submarino Pete Mathews (Keneth Tobey) e pelos cientistas Lesley Joyce (Faith Domergue) e John Carter (Donald Curtis).
Um subtexto erótico é explorado nas conversas entre os três líderes, especialmente quando falam sobre lagostas e mergulhos a dois no mar Vermelho, com vantagem para o capitão. Seu interesse em capturar o polvo deve-se principalmente à vontade de trazer para seus “tentáculos” a bela cientista. Antes de um ataque da criatura, chega-se até a parodiar, entre eles, a famosa cena do beijo na praia entre Burt Lancaster e Deborah Kerr, em A Um Passo da Humanidade (1953). Mas o que faz o filme caminhar são mesmo os ataques do molusco e as tentativas de pará-lo. O suspense é construído aos poucos. O monstro não aparece logo de cara (como mandava a cartilha dos bons filmes da B da época); é só mancha escura no radar do submarino. Depois, um ou outro tentáculo à mostra e, por fim, visto por inteiro em São Francisco, num notável trabalho de animação em stop motion de Ray Harryhausen, mago dos efeitos especiais da época, e que depois ficaria encarregado de “destruir” Washington em A Invasão dos Discos Voadores (Earth vs. The Flying Saucers, 1956). Por causa das restrições orçamentárias, o polvo teve que ser construído com apenas seis tentáculos. Mas, sendo seis ou oito, não importa. A destruição é a mesma, afinal a criatura verga a Golden Gate, ponto preferido dos suicidas americanos, com uma facilidade impressionante.
Fácil falar que, 50 anos depois, os efeitos especiais envelheceram, que os personagens são superficiais, especialmente os burocratas, de uma estupidez eqüina, mas o trabalho de Ray Harryhausen, a direção de Robert Gordon, que soube aproveitar o orçamento reduzido na composiçao cuidada de cada enquadramento, e alguns divertidos diálogos fazem deste um charmoso clássico para quem tem olhos para apreciá-lo, numa época fecunda em filmes com as mais sortidas criaturas gigantes e radioativas destruindo tudo pela frente, como O Mundo em Perigo, de Gordon M. Douglas (Them!, 1954), Tarântula, de Jack Arnold (Tarantula, 1955), além dos inúmeros exemplares da série japonesa Godzilla (ou "Godjira").
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