(Ride the High Country, EUA, 1962)
Sam Peckinpah ficaria conhecido pelo parcial rótulo de cineasta da violência, em filmes como Meu Ódio Será Tua Herança (69), Sob o Domínio do Medo (71), Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (74) e A Cruz de Ferro (76). Filmava mortes e tiroteios com o ostensivo uso da câmera lenta. Mas antes este belíssimo western sobre o fim do gênero, reunindo em seu elenco dois de seus maiores ícones: Randolph Scott (em seu último filme) e Joel McCrea.
McCrea é ex-homem da lei Steve Judd contratado para transportar uma remessa de ouro em território hostil. Num mundo que se moderniza, xerifes a cavalo como ele são tipos raros, ultrapassados pelos automóveis, que fazem questão de cortar seu caminho, em momento-chave logo no início do filme. Pobre, com as mangas puídas e os sinais do tempo impressos no rosto, ainda assim mantém a dignidade num lugar onde todos parecem desdenhar de seu tipo antiquado. Para escoltá-lo na tarefa de alto risco, contrata um antigo conhecido, Gil Westrum (Randolph Scott), também um caubói do passado que hoje sobrevive como atração de um parque de diversões. Junta-se a eles o jovem intempestivo Heck Longtre (Ron Starr), protegido de Gil. Porém, o que não passa pela cabeça de Judd é que Gil, velho pilantra, e Heck pretendem roubar o ouro.
No caminho, une-se a eles a jovem Elsa Knudsen (Mariette Hartley), que decide acompanhá-los para poder escapar do seu rígido pai, Joshua Knudsen (R.G. Armstrong), um pregador religioso, e se casar com Billy Hammond (James Drury), um mineiro nada religioso, no garimpo de Ouro Bruto. Após a cerimônia, feita num bordel, em meio a rudes mineradores e por um juiz de paz para lá de bêbado, Elsa percebe o equívoco cometido, pois Bill é um homem violento e seus irmãos, mais ainda. Assim, Gil dá um jeito para que o matrimônio seja considerado nulo e os quatro saem dali. No caminho, Judd descobre a traição, uma de suas maiores decepções na vida, mas evita o roubo e prende os dois. No entanto, Bill e seus irmãos os perseguem, pois querem Elsa de volta a qualquer custo, o que desembocará no tiroteio final que unirá novamente Gil e Judd.
Peckinpah, em seu segundo filme para o cinema, pavimenta aqui a trilha do western crepuscular que marcaria outros de seus trabalhos, especialmente Meu Ódio..., A Morte não Manda Recado (70), Junior Bonner (72) e Pat Garrett e Billy The Kid (73). Mas sem a violência do primeiro. Tudo é conduzido de maneira clássica, como nos westerns dos anos 50, cuja era de ouro parecia mesmo chegar ao fim, apesar do revival do gênero na Europa e seus erzätze mais estilizados. O melhor do filme são as conversas entre Judd e Gil durante a viagem, em que relembram o passado em comum com humor e certa dose de melancolia, o que imprime ao trajeto um tom memento mori (“lembre-se de que vai morrer”). Ao final, no entardecer do feliz título brasileiro, tombam os ícones, num fecho poético dos mais belos da história do cinema.
1 comentário:
sam peckinpah forever
..a beleza do final de "pistoleiros.." é liricamente trágico,me faz lembrar do belíssimo desfecho pincelado pela poesia do fracasso de john huston em "asphalt jungle"(o segredo das jóias)e do duelo final entre gary cooper e burt lancaster em "vera cruz" de robert aldricht...alex
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