(Charade, EUA, 1963)
Derivação bem-sucedida dos filmes de Alfred Hitchcock, mas que anda com pernas próprias graças ao charme da dupla principal, à direção firme de Stanley Donen, que permite que a química entre Cary Grant (ator de filmes de Hitch) e Audrey Hepburn emane com a maior naturalidade, e ao roteiro, que garante diálogos afiados e as inesperadas reviravoltas na trama. Talvez não tão inesperadas, mas tudo tão sofisticado que, graças ao conjunto, deixa-se levar sem esforço pelos desdobramentos do enredo. Na história, em Paris, Hepburn se descobre subitamente viúva. O marido Charles Lampert fora assassinado. Descobre também que está sendo perseguida por três cúmplices do falecido. O motivo ou “McGuffin”: uma considerável soma de dinheiro que Charles teria roubado quando cumpria uma missão perigosa como soldado ao lado de outros combatentes a serviço do governo americano na II Guerra Mundial. Esses homens sinistros que a perseguem são os tais colegas de Charles, interessados no paradeiro da grana. Mas ela conta com a ajuda do americano Grant, tipo elegante que conheceu numa estação de esqui na Suíça, mas também suspeito de mão cheia. Também a auxilia um agente da embaixada americana de Paris (Walter Matthau). E um inspetor da polícia francesa, desconfiadíssimo de tudo, também a procura. Quantos homens interessados numa só mulher, hein! Bom, sendo Audrey Hepburn a mulher isso explica muita coisa. Mas mais cadáveres tornam a aparecer, e nem tudo é o que parece, mesmo que, no final das contas, se pareça sempre com Cary Grant.
Ângulos de câmera, enquadramentos, montagem, trilha sonora e até a abertura mimetizam Hitchcock. Assim, o filme, nunca paródia, sempre uma homenagem, mantém o suspense, sobretudo na seqüência nos telhados de Paris e no tiroteio final, por exemplo. Mas o que faz mesmo o filme caminhar, mais que o dinheiro ou a verdade sobre Charles, é o interesse constante que lady Hepburn nutre pela covinha no queixo de Grant e a súbita vontade de vê-lo tomar banho, ainda que totalmente vestido, arruinando o terno, numa cena antológica. Foi refilmado/homenageado por Jonathan Demme, em O Segredo de Charlie (The Truth About Charlie, 2002), que trazia Mark Wahlberg e Thandie Newton nos papéis principais e muita influência da Nouvelle Vague na maneira de (re)contar a história. Os franceses acham o máximo.
4 comentários:
Obrigado pelo empurrãozinho pra eu assistir a esse filme. Faz tempo que tenho que pegar e locar, mas acabo me esquecendo. Se eu tivesse entrado no teu blog e lido antes, eu com certeza teria trazido. Não sabia que O SEGREDO DE CHARLIE era remake de CHARADA.
Oi, David.
Andei fora do ar por uns dias mas já estou de volta.
E já li tudo o que tinha perdido nas últimas semanas. ;)
Beijo.
Alê, bom te ver de volta. Mesmo. Um beijo.
Ailton, depois você me diz se a imagem do DVD da Continental está boa. Só vi o filme na TV.
Talvez um pouco longo, mesmo assim muito bom!
Ciao!
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