Cassino Royale (Casino Royale, EUA/Alemanha/Reino Unido/República Checa, 2006)
Sim, eu sei, tem gente que gosta da paródia de 67, com um dos maiores elencos de todos os tempos. Mas que filme era aquele, hein!
Já Cassino Royale, o novo 007, é tudo aquilo que andam dizendo de bom sobre ele. “Terrific”, “Bombastic”, “Sensational”, “A Marvelous Return”, etc. E melhor, o novo ator a interpretar o James Bond is just like Lord David himself: alto, loiro, irritadiço e com especial apreço por mulheres casadas. Bem, nem tanto apreço assim. Ao contrário das más críticas, Daniel Craig tem sim o physique du rôle adequado para Bond, encarnando-o com a habitual elegância que caracteriza o personagem, mas sem esquecer de que é também um assassino frio e violento. E, bem ao contrário do jeitão paródico de filmes anteriores, reinventa-se a série, indo direto às suas origens literárias e justamente na história inaugural de Ian Fleming, em que o personagem recebe sua muito útil licença para matar. Por isso, a abertura é mais sombria, sem firulas, num apropriado preto e branco. Há menos engenhocas, menos ironia e as lutas são brutais e violentas. O grande mérito aqui é não tornar Bond um ninja voador suspenso por fios invisíveis, nem os efeitos especiais um acúmulo de simulacros digitalizados. Assim, as cenas de ação são intensas, mais físicas, bem-editadas, e Martin Campbell, da mesma forma que em Goldeneye, prova mais uma vez que sabe como ninguém pôr abaixo patrimônio histórico. Mas, superiores às cenas de correria e parkour são mesmo as cenas dramáticas, que vão do tenso jogo no cassino ao relacionamento de Bond com Vesper Lynd (Eva Green), especialmente no primeiro contato entre eles no trem e quando ele a consola no chuveiro, após fazer “discreto” uso de sua licença bem diante dela.
Há o chauvinismo de Bond, mas há também a disposição dele em se entregar ao amor, como em A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969). Por isso, não à toa, na seqüência em que persegue um inimigo em meio a cadáveres plastificados (as famosas esculturas de resina e “gente” do Dr. Gunther von Hagens) força-se uma aproximação entre Bond e o mundo de pessoas de carne e osso, vulneráveis, fragilizadas, além de antecipar detalhes importantes da narrativa. E há também um vilão que, por mais inserido na realidade mundana do pós-11 de setembro, sem o glamour antigo de um agente da SMERSH, pega Bond de jeito pelos colhões, com a mesma vontade de castrá-lo que o laser de Goldfinger do filme homônimo de 64. Ah, e Eva Green vale todo o resto.
2 comentários:
só assim eu fiquei sabendo que vc gosta de mulher casada...hehehe
Você tmbém, Ailton? Na verdade, não sou eu, são elas. Mentira: eu é que sou pretensioso.
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