quinta-feira, março 20, 2008

Ponto de Vista

(Vantage Point, EUA, 2008)



"May God bless America"


Alertado pelas centenas, quiçá milhares de críticas ruins de prestigiosos jornalistas culturais dessa nossa grande imprensa e por comentários parciais de blogueiros bem mais esclarecidos do que eu, juro que tentei não gostar deste filme de ação que, pelo trailer, se anunciava rotineiro, com cara de Super Cine e tal. Juro. Mas este sub-Bourne, com a correria típica de 24 Horas (uma missão a ser cumprida num espaço apertado de tempo) e traços de Rashomon em seu fiapo de enredo, apesar do mote da trama batidíssimo e do absurdo roteiro feito de encontros improváveis, em que pela enésima vez algum grupo terrorista radical teimoso e malvado tenta assassinar o presidente dos EUA (William Hurt), matando um monte de gente inocente no caminho, numa conferência global sobre terrorismo em Salamanca, Espanha, despertando como conseqüência a fúria dos valorosos e dedicados agentes americanos, é bastante movimentado e curto o suficiente para entreter uma preguiçosa tarde de sábado e evitar maiores aborrecimentos. O atentado, um tiro que atinge o presidente, seguido por uma violenta explosão, acontece logo no começo. Depois o filme, sem ser intricado, recua em sucessivos flashbacks para narrar os eventos anteriores que culminaram no momento fatídico, pelo ponto de vista de algumas figuras-chave, como um policial espanhol (Eduardo Noriega), um turista americano que filma tudo (Forest Whitaker), dois dos terroristas (a sensual israelense Ayelet Zurer, de Munique, e o bom ator francês Saïd Taghmaoui), um veterano agente do Serviço Secreto americano que acompanha a comitiva (Dennis Quaid) e o próprio presidente dos EUA. A cada recuo, uma reviravolta, uma nova traição, e o filme avança e finalmente engrena. Parece banal e é, já que a intenção aqui não é levar a dúvida, como em Rashomon, mas sim expor a cada momento desvelado uma peça do quebra-cabeça com absoluta certeza de encaixe até o movimentado final, mesmo tropeçando no roteiro. Mas a boa direção de Pete Travis, que nunca perde o fio da meada, e, principalmente, a ótima montagem a cargo do veterano Stuart Baird (de Superman – O Filme, A Profecia, US Marshalls – Os Federais) faz tudo caminhar direitinho, num pulsante e envolvente crescendo, sem a entropia da muito aclamada cinessérie Bourne, com seus zooms, caos visual, câmera ostensivamente tremida, fotografia modernosa de tons esmaecidos, etc., e os personagens são todos bem aproveitados dentro da estrutura da trama, à exceção de Sigourney Weaver, muito breve como a diretora de uma das emissoras que registra o atentado. Enfim, uma patriotada que dá para o gasto, dependendo do nobre gosto superior dos refinados e muito sabidos espectadores atuais.

Sem comentários: