quinta-feira, março 13, 2008

Dois Dias em Paris

(2 Days in Paris, França/Alemanha, 2007)



Enquanto flana mais uma vez por Paris, Julie Delpy dirige, escreve, edita, atua, compõe e ainda canta algumas das músicas da moderninha trilha sonora desta comédia romântica verborrágica, obviamente influenciada pelos trabalhos de Richard Linklater, sobretudo Antes do Pôr-do-Sol (2004), onde também co-escrevia e protagonizava. No entanto, aqui o tom é mais sarcástico, menos romântico na estorinha de jeitão indie de um casal descolado, a francesa Marion (Delpy) e seu hipocondríaco namoradinho americano Jack (Adam Goldberg, cria de Linklater, revelado no ótimo Jovens, Loucos e Rebeldes, 1993), com um relacionamento de dois anos já um tanto desgastado e que, após viagem à Itália, decidem passar dois dias em Paris antes de regressarem a Nova Iorque, onde moram. Filha de pais liberais e, especialmente seu pai, artista plástico erótico (Abert Delpy, pai de Julie), bastante lúbricos, mantém contato com os vários ex-namorados que encontra casualmente na rua, cumprimentando-os sempre com dois beijinhos, o que desperta os ciúmes quase doentios de Jack, um decorador hipocondríaco, barbudo, tatuado e obviamente malinha, apesar da aparência cool, obcecado por registrar todos os momentos da viagem com uma câmera fotográfica digital, embora a fotógrafa profissional seja ela.

Com alguns diálogos afiados na falação toda e outros bons momentos, como a visita ao túmulo de Jim Morrison sempre cheio de fãs extravagantes ou quando Jack, mesmo sem conhecer a cidade, explica a um grupo de estúpidos americanos fãs de Dan Brown como chegar ao Louvre, dando-lhes propositalmente as direções erradas, a bela Julie (aqui enfeiada e parecendo uma estudante universitária desleixada), apesar de francesa, cutuca sem dó os estereótipos de sua terra natal, como a comida esquisita dos “frogs”, as múltiplas neuroses dos parisienses, os taxistas racistas, os artistas jovens, culturetes e pretensiosos que povoam os distritos da Cidade Luz e, sobretudo, toda essa liberdade bem francesa para falar o tempo todo e descompromissadamente sobre sexo (e fazê-lo também quando der na telha, sem grilos ou quase), desviando a câmera dos pontos turísticos mais tradicionais e do clichê de Paris como cidade romântica, embora este curioso filme, agradável e divertido, não traga nenhuma surpresa em relação a tudo o que já foi visto no irregular filme-ônibus Paris, Te Amo (2006) e no supracitado trabalho de Linklater, terminando até de forma bem mais caretinha, ainda que o briguento casal deste filme se pareça mais com tipos reais que os dois jovens românticos idealizados do(s) filme(s) de Linklater. Ah, l´amour, toujours l’amour...

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