sexta-feira, março 23, 2007

Mundo Despido

(Naked World, EUA, 2003)



Get naked! Todo mundo nu e diante das lentes do fotógrafo americano Spencer Tunick, que ficou célebre por clicar multidões de anônimos peladões em locais públicos, compondo paisagens de corpos despidos, indiferenciados e sob os olhares nem sempre coniventes das autoridades ou dos pedestres. Em Montreal, chegou a reunir mais de duas mil pessoas numa esplanada. Quando a polícia chega, no entanto, uma verdadeira festa do "corre nu" tem início. Mas também há nus individuais, melancólicos, pouco eróticos, de pessoas comuns diante de monumentos ou prédios, como mostra este documentário para a HBO de Arlene Donnellym, que acompanha Tunick em jornada por vários países com a intenção de registrar pelados dos quatro cantos do globo. Cidades do Japão, França, Reino Unido, Austrália, África do Sul e até o continente antártico serviram de cenário para a obsessão de Tunick, na ambiciosa turnê Nude Adrift (“nu à deriva”), que terminou em 2002, na Bienal de São Paulo, com a performance da multidão desnuda e disposta bem na praça do obelisco do Ibirapuera. Aliás, em São Paulo, o trabalho de Tunick teve a maior repercussão até então de sua carreira, o que está de acordo com o espírito novidadeiro do paulistano. Nunca antes ele tinha exposto num evento tão grande e para tanta gente como numa Bienal, famosa por seu gigantismo. Seria ele, no entanto, uma farsa, apenas um marqueteiro disposto a fazer barulho? Não importa. E o filme não discute isso. Apenas registra.

Curioso, divertido, embora um pouco repetitivo nos depoimentos, mostra um esforço quase de guerrilha do fotógrafo e sua equipe para conseguir convencer as pessoas, recrutadas nas ruas ou pela Internet, a posarem para as suas fotos, em geral tiradas nas primeiras horas do dia. Muitas vezes tem que ser rápido no clique e fugir para não ser preso, como aconteceu nos EUA, durante turnê pelas cidades americanas em 1999, tema do documentário anterior, Naked States (2000), da mesma diretora. E, superficialmente, revela um pouco de como a cultura de cada país visitado encara a nudez. Na França, por exemplo, país de tradição liberal, teve mais dificuldades de clicar que na Inglaterra, geralmente tida como nação conservadora, onde conseguiu juntar quase 400 pessoas para a performance, e com a ajuda das sisudas autoridades locais. Com exceção, obviamente, da Antártica, onde pingüins e outros animais que habitam a região, nus desde o nascimento, não se importam tanto com isso. Ou se importam?

2 comentários:

Ailton Monteiro disse...

não sabia que esse doc tinha chegado no Brasil. aliás, não sabia nem que ele existia..hehehe.. Mas deve ser interessante..

Lorde David disse...

Passou na Mostra de 2004, se não me engano, e está sendo reprisado no Max Prime. Bem curioso, na verdade, embora não seja aquele escândalo todo até porque Tunick já foi incorporado pelas grandes exposições, galerias e museus do mundo inteiro.