(Shadows, EUA, 1959)
Filma-se o mundo e as pessoas inseridas nele sem artifícios, mas com energia e entrega. Pela noite, a câmera de John Cassavetes, em seu filme de estréia como diretor, erra junto com um grupo de jovens por uma Nova Iorque sem glamour, mas cheia de vida. Um deles, Tony (Anthony Ray), enamora-se de Lelia (Lelia Goldoni), que conhece numa festa tipicamente beatnik, ao som de jazz e em meio a discussões existencialistas. Depois da transa, descobre que, mesmo com a pele bem clara, ela vem de uma família de negros, um deles músico de jazz, o que o perturba e leva a abandoná-la. Mais tarde, se arrependerá.
Pela aparência das coisas, que se movem quase que numa confusão constante, em pequenos episódios, com naturalismo, num preto-e-branco cru, chega-se neste filme enxuto à essência desses indivíduos que pernoitam ora angustiados, ora alegres e antecipa-se muitas das marcas registradas do estilo que Cassavetes depuraria mais tarde em Faces (1968) e Husbands (1970), como um grupo de rapazes vagando pela cidade, discutindo, muitas vezes brigando entre si ou com outros, a câmera solta pelas ruas, longe do estúdio, próxima ao rosto dos atores não-conhecidos, abordando um tema polêmico à época, como o relacionamento inter-racial, num registro quase que de working in progress, improvisado e direto naquilo que mostra ou deixa de mostrar, trilhando, solitário, o caminho para toda uma geração de cineastas que viria mais tarde, como Scorsese, Woody Allen, James Toback, entre outros.
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