quinta-feira, março 08, 2007

Tempestade d'Alma

(The Mortal Storm, EUA, 1940)

A ascensão de Hitler na Alemanha de 1933 é o pano de fundo deste drama trágico, levado com fluidez por Frank Borzage, obtida pela intensa movimentação de câmera, especialmente nos momentos finais. Nem tão pano de fundo assim, no entanto, já que a chegada do Führer ao poder afetará de forma inexorável a vida da família do professor Victor Roth (Frank Morgan), eminente fisiologista, até então querido por todos, que verá seus dois enteados e os seus alunos juntarem-se à histeria ariana, perseguindo e espancando opositores e queimando livros bem diante de sua sala na universidade. Seu próprio trabalho será contestado pelas absurdas leis raciais. No entanto, um amigo da família e ex-aluno de Roth, o veterinário Martin (James Stewart), liberal, se recusará a participar do movimento, sendo obrigado a refugiar-se na casa da mãe nos Alpes e depois a fugir para a Áustria. Sua amiga de longa data e filha do Dr. Roth, a bela Freya (Margaret Sullavan), então noiva de Fritz (Robert Young), militante ariano e ex-colega de Martin, se manterá ao lado de Martin e do pai, rompendo o noivado em definitivo. Após o envio do pai para um campo de concentração e as inúteis tentativas de libertá-lo, tentará também fugir para a Áustria, com a mãe. Sua união com Martin, que parecia provável, vai ficando cada vez mais difícil, quando é barrada na fronteira, Martin se verá obrigado a resgatá-la e conduzi-la pelos Alpes, por uma passagem secreta, numa seqüência belíssima e cheia de dramaticidade, na qual os dois serão então perseguidos pelos guardas de Fritz, que selará o destino dos dois, na vastidão branca das montanhas que se erguem para um céu tranqüilo, indiferente às inexplicáveis tormentas que atingem os seres e que, de tempos em tempos, arremessa-os para lados opostos e inconciliáveis, conforme assinala a narração inicial.

Intenso ainda o amor de Martin por Freya, entrevisto nos detalhes e que os conduzirá pelas montanhas e para além delas. Pena que são poucas as cenas com os dois juntos, limitadas pelo contexto político, vividos pelo adorável par de A Loja da Esquina (The Shop Around the Corner, 1940). Ainda assim, um filme pontuado por imagens poéticas, mesclando as tormentas da natureza com o drama dos indivíduos de forma inesquecível, e que fez com que Hitler, ao ver este filme da MGM, banisse da Alemanha todas as produções do estúdio. No final, a silenciosa mesa vazia da família Roth, tão festiva no começo, fecha o filme com um travo doloroso.

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