(Brasil, 2006)
Quem vê bunda não vê coração. Amarra-se na bunda, no caso no traseiro de uma garçonete (Paula Braun) da lanchonete onde Lourenço (Selton Mello), dono de um depósito que negocia mercadorias usadas, almoça o mesmo lixo todo dia. Misantropo, gosta de humilhar os clientes, pagando sempre o preço mais baixo pelas mercadorias oferecidas, na verdade quinquilharias, e prefere a parte pelo todo. Além da bunda, signo onipresente ao longo do filme e que quer comprar a qualquer custo, se interessará também por um olho e pela prótese de uma perna mecânica, em certo momento. Também dia a dia o cheiro do ralo do seu banheiro o incomodará cada vez mais. Ficará impregnado por esse odor “mérdico”, a ponto de ser consumido por ele (e pela bunda também, qualquer bunda feminina) neste filme de humor corrosivo, episódico, e por isso irregular, e que nasceu com a intenção de ser propositalmente cult, inteligente, pelas mãos do diretor Heitor Dhalia (Nina, 2004). Escorrega ao tentar explicar ou psicologizar as obsessões do protagonista como um problema ligado à ausência paterna, mas Selton Mello, no tom certo, e o texto sarcástico de Lourenço Mutarelli (que faz o segurança) e Marçal Aquino garantem a parte pelo todo do filme no quesito diversão cool e moderninha.
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