(Driving Lessons, Reino Unido, 2006)
Particularmente gosto dessas pequenas comédias britânicas que surgem por aí vez ou outra. Esta aqui não foi lançada; foi arremessada no circuitinho culturete paulistano, numa única sala e ninguém vai vê-la, provavelmente. Também não vai ganhar o Oscar, Cannes, Bafta, muito menos o Prêmio Jairo Ferreira (talvez por não ter sido filmada em preto e branco, com câmera estática, nem durar três penosas horas). Ainda assim é muito agradável de ser assistida. Não intenciona ser mais que um feel good movie e tem sucesso nisso. Como em Vênus, de Roger Michell, sobre diferença de gerações e com a morte onipresente, narra a relação de altos e baixos entre uma velha dama do teatro, Evie Walton (Julie Walters, esplêndida), cheia de vida e imprevisível, e seu jovem assistente, o quase morto Ben (Rupert Grint, da série Harry Potter), aspirante a poeta, oriundo de uma família bem religiosa, ou nem tanto, cujo pai (Nicholas Ferrell) é pastor e a bela e rígida mãe (Laura Linney), empenhada até demais nas atividades da igreja, freqüentemente escalando seu filho para peças bíblicas, em que interpreta com vigor Shakespeareano arbustos e eucaliptos. Além de comandar a casa, também é bem dedicada, entre um ou outro "Oh Lord!", em trair o marido com um jovem pastor e aspirante a Jesus Cristo das montagens que dirige, além de limitar os encontros sociais do tímido filho, que tenta sem sucesso tirar carta de motorista ou conquistar sua coleguinha de escola. No verão, tudo muda quando Ben arruma um emprego de meio período na casa de Evie. Então o filme vira, certa feita, um road movie, mas como o país percorrido é o Reino Unido, a viagem não dura tanto, embora a trajetória seja de descobertas duradouras para Ben, que aprenderá mais do que as lições de direção do título original, para o desespero de sua mãe, e de redescoberta para Evie, como na bela cena em que os dois contemplam um lago na Escócia. Ela dará um novo rumo à vida de Ben e ele a estimulará a “atuar” novamente no palco, já que se encontrava relegada a papéis secundários na TV ou a leituras públicas de poesia. Parece óbvio, ainda mais pelo título em português, que evoca o clássico Ensina-me a Viver (1971), de Hal Ashby, inclusive pela similaridade do tema retratado, mas o ótimo elenco e o humor dos diálogos e situações garantem o interesse por este filme despretensioso de Jeremy Brock, roteirista do mais prestigioso O Último Rei da Escócia. Bacana, bacana.
2 comentários:
Eu detestei o trailer, mas lendo seu texto fiquei com vontade de ver.
O problema é tempo. Ainda tem 5 filmes na minha lista!
Beijo.
Deve sair de cartaz logo, uma pena. Não é nada de mais, mas depois de tantos filmes meio pesadões ou ruins, até que a despretensão deste me caiu bem. Um beijo.
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