terça-feira, março 27, 2007

O Retorno do Talentoso Ripley

(Ripley’s Game, Itália/Reino Unido, 2002)



Crime sem castigo. Sem culpa, também. Assim age Tom Ripley, o americano tranqüilo, falsário e sempre apto a improvisar, ao envolver o emoldurador Jonathan Trevanny (Dougray Scott), que está morrendo de leucemia, em um de seus jogos. Insultado por Jonathan diante dos vizinhos num almoço familiar, Ripley vinga-se o indicando para seu antigo comparsa, Reeves (Ray Winstone), um sujeito grosseiro, envolvido em disputas de território com a máfia russa em Berlim, para executar um poderoso rival. Jonathan, pensando no dinheiro para garantir a segurança de sua família, topa o serviço arriscado. Será bem-sucedido, para a surpresa de Reeves e Ripley. Novamente, será convocado por Reeves. O laço entre Ripley e Jonathan se estreitará, especialmente após uma formidável seqüência de assassinato no trem para Dusseldorf, momento dos mais hitchcockianos, neste filme levado com elegância por Liliana Cavani (O Porteiro da Noite, 1974), cujo olhar europeu privilegia a beleza da villa palladiana no Vêneto, onde vive Ripley, do Teatro Olímpico, da piazza de Vicenza e dos afrescos, sem afetação e de modo justo. Filme também quase todo sussurrado, de andamento tranqüilo, mas eficaz, ao som das delicadas notas do cravo, com ótimas interpretações de Dougray Scott e John Malkovich, que compõe um Ripley suave, dedicado à esposa (Chiara Caselli), mas convincentemente ameaçador e ambíguo, bem próximo do espírito do personagem criado por Patricia Highsmith, legítima herdeira de Dostoiévski.

Injustamente ignorado na época em que foi lançado nos cinemas, mas muito superior à versão dirigida por Anthony Minghella, O Talentoso Ripley (1999), e que trazia o mesmo personagem na pele do não tão nuançado Matt Damon.

6 comentários:

Ailton Monteiro disse...

Gosto muito desse filme. Bem superior ao do Minghella. A Liliana Cavani chegou a trabalhar novamente nos EUA?

Ailton Monteiro disse...

Aliás, nem sei a produção é americana...hehehe

Lorde David disse...

Oba, mais um admirador deste belo filme. O do Minghella é muito turístico e superficial.

Ela nunca trabalhou nos EUA. E a produção é européia. Quer dizer, tem o Reino Unido, que não se considera muito parte da Europa, hehehe.

Ailton Monteiro disse...

Legal que nesse filme, a gente simpatiza com o Ripley, enquanto no filme do Minghella eu senti ojeriza por ele. Gosto também do Ripley do Alain Delon.

Lorde David disse...

Malkovich é um ator muito melhor que o Damon, quando bem dirigido, o que quase sempre acontece pelas mãos dos diretores europeus. Mas não sei se simpatizo com o Ripley. É um pouco como o Hannibal Lecter, sempre muito inquietante, hehehe.

Anónimo disse...

Eu sinto ojeriza pelo Minghella.