segunda-feira, março 19, 2007

Maria Antonieta

(Marie Antoinette, EUA/França/Japão, 2006)



Austríaca de nascimento, francesa por conveniência política e inconveniência conjugal.

Do alto do palácio de Versalhes, diante da esplanada de seus jardins geométricos, “perdida na tradução” dos costumes franceses, Maria Antonieta (Kirsten Dunst) contempla a sua solidão neste belo filme de Sofia Coppola, em que a austríaca é restaurada ao trono e à sua importância histórica sem perder a sua frivolidade (e complexidade) como figura humana. Olhar feminino da diretora, nada frívolo, no entanto, menos engajada na Revolução vindoura e que vê com angústia o fato da futura rainha, ainda adolescente, longe da família, literalmente despida dos pertences de sua terra natal, não conseguir consumar o casamento com o delfim da França, Luís Augusto (Jason Schwartzman), também adolescente e futuro rei Luís XVI, nem a aliança que une os dois reinos. Que a acompanha com atenção aos detalhes pelos corredores do palácio, seguindo dia a dia a ritualística rígida da rainha, cercada o tempo todo por damas de companhia, ao mesmo tempo em que se empanturra de doces, coleciona sapatos, vestidos, jóias, promove jogatinas e bailes tipicamente adolescentes ao som de rock’n’roll, num delicioso anacronismo da produção. Um dia também se reinventa como cantora de ópera, sem dar a devida importância às tensões sociais e políticas que se avolumam fora das cercanias do palácio, ainda que seja flagrada num momento de intimidade com a filha e as amigas lendo encantada Rousseau, o santo padroeiro das esquerdas. Um dia, porém, os aplausos no teatro e na corte não irão mais para ela. Os colares que enfeitam o seu pescoço anunciam sutilmente a posição da lâmina onde cairá a guilhotina. Por trás da cor rosa de seus deslumbrantes vestidos, tons mais fortes e complexos tingirão o seu destino, do rei e dos filhos. E a França nunca mais seria a mesma.

2 comentários:

Susana Fonseca disse...

Ao contrário das críticas, gostei deste filme da Sophia Coppola. Eu tinha lido uma biografia de Maria Antonieta, e corria o risco de me desiludir. De qualquer das formas, creio que Sophia quis mostrar um lado de Maria Antonieta diferente do que a história nos dá, tratado de uma forma arriscada, mas bem conseguido.

Lorde David disse...

Aqui no Brasil muitas críticas foram positivas. Sofia não quis fazer um retrato caricato da polêmica rainha; quis situá-la no contexto da corte, mas não torná-la mera vítima das circunstâncias.