(The Shop Around the Corner, EUA, 1940)
Ah, que felicidade este filme! Que encanto! Que primor!
A quintessência das comédias românticas, numa versão agridoce das comédias de lojinha, bem comuns no Leste Europeu e freqüentes na fase muda de Ernest Lubitsch no início de sua carreira, na Alemanha. Aqui, na loja de artigos de couro do senhor Matuschek (Frank Morgan), em Budapeste, os vendedores Alfred Kralik (James Stewart) e Klara Novak (Margaret Sullavan), entre bolsas, carteiras e cigarreiras que tocam música cigana, trocam rusgas e farpas o dia inteiro, enquanto secretamente dividem apaixonadas confissões em cartas anônimas. Marcam o encontro e, entre quiproquós vários, desencontram-se, mas a esperança se renova a cada nova carta recebida por um ou por outro. Alfred, junto com o colega, no entanto, descobre a identidade dela, mas trata de ocultar esse segredo a seu favor, enquanto é despedido pelo patrão e readmitido novamente como gerente, depois de Matuschek descobrir que a sua esposa andava de caso com um dos empregados, o fofoqueiro Ferencz Vadas (Joseph Schildkraut), e sofrer um colapso, seguido à frustrada tentativa de suicídio, afastando-se da loja em plena época de Natal.
No filme inteiro, conduzido com suavidade e elegância por Lubitsch, o famoso “toque de Lubitsch” em sua conhecida irreverência e malícia está aqui menos evidente. Põe, no entanto, a humanidade dos personagens em relevo, ao expor em finos diálogos um microcosmos de pessoas comuns, sem muitas ambições, mas que amam, que querem ser amadas, que sofrem, que se sentem sós ou com medo, que ficam felizes uma hora, para em seguida desapontarem-se, em momentos genuinamente comoventes, a maioria deles a cargo do sempre honestíssimo James Stewart, incapaz de ser maldoso ou malicioso, e em perfeita sincronia com Margaret Sullavan. Juntos, os dois já haviam estrelado Amemos Outra Vez (Next Time We Love, 1936), de Edward H. Griffith, O Último Beijo (The Shopworn, 1940), de H.C. Potter, e voltariam ainda em Tempestade d’Alma (The Mortal Storm, 1940), de Frank Borzage. Sobre o filme, por quem Lubitsch tinha grande carinho, chegou a declarar uma vez: “Em termos de comédia humana, creio que jamais fui tão bom como em A Loja da Esquina. Nunca fiz um filme em que a atmosfera e os personagens fossem mais reais”.
Esta obra-prima ganharia depois uma versão musical nas mãos de Robert Z. Leonard, A Noiva Desconhecida (In the Good Old Summertime, 1949), uma adaptação para a Broadway em 1963 ("She Loves Me") e, enfim, seria estraçalhada por Nora Ephron em Mensagem para Você (You’ve Got Mail, 1998), transpondo a ação das simpáticas lojinhas de Budapeste para a Nova Iorque competitiva das megalivrarias, e substituindo as cartas pelas salas de bate-papo na Internet, onde tudo é mais volátil, fugaz, falso e, conseqüentemente, inverossímil, apesar do tom "fofinho" da comédia estrelada por Tom Hanks e Meg Ryan.
2 comentários:
Obra-prima mesmo. Meu segundo Lubitsch favorito.
Oi, Marcelo. E qual seria o seu Lubitsch favorito de todos? Tem vários que adoro, este A Loja..., Ninotchka, O Pecado de Clunny Brown, Que Sabe Você do Amor, A Viúva Alegre, etc.
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