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segunda-feira, março 31, 2008

A Família Savage

(The Savages, EUA, 2007)



Há tempos afastados um do outro, dois irmãos da família “Selvagem” do título original se reencontram para cuidar do pai (Philip Bosco), que sofre de demência e que foi recentemente expulso da casa no Arizona onde vivia há anos com a sua recém-falecida companheira pela família dela. O irmão (Philip Seymour Hoffman) ensina teatro numa universidade de segunda linha em Buffalo e tenta concluir um livro sobre Brecht. A irmã (Laura Linney) sonha em se tornar dramaturga, pleiteando bolsa de pesquisa junto a famosas instituições, como a Fundação Guggenheim, enquanto se vira em trabalhos temporários em Nova Iorque. Em comum, ambos, por volta dos quarenta anos, têm dificuldades nos relacionamentos amorosos e não parecem muito satisfeitos com as rotineiras vidas que levam, embora nunca comentem abertamente entre si. A reaproximação exporá as diferenças entre eles, especialmente na maneira de lidar com a velhice do pai rabugento, e servirá para dar novo rumo à vida dos dois. Ou quase. Mas, apesar de tudo e de todos, sobretudo do pai quase sempre ausente da vida deles e agora moribundo, nunca deixarão de serem irmãos, prevalecendo, entre brigas, discussões e abraços, o reencontro com os afetos fraternais, o apoio de um a outro.

Ora terno, ora irônico, sempre bem-humorado filme em que a direção sensível e elegante da também roteirista Tamara Jenkins se encarrega de evitar o melodrama rasgado que um tema como esse poderia render e, principalmente, os tiques comuns do cinema americano dito independente, além de valorizado pelas justas interpretações de Linney e Hoffman, sem sombra de dúvida, dois dos melhores e mais confiáveis atores da atualidade. Bom filme agridoce sobre os encantos, curtos, e os desencantos, prolongados, do cotidiano, belos atores, acima de tudo.

terça-feira, julho 31, 2007

Quebra de Confiança

(Breach, EUA, 2007)



O maior caso de vazamento de informações ultra-secretas da história da espionagem americana, num filme conduzido com discreta elegância por Billy Ray (O Preço de uma Verdade, 2003, que também era um filme sobre o maior caso de falsificação de reportagens do jornalismo americano), também co-roteirista. Sem grandes arroubos, comedido, quase “sussurrado”, concentra-se, sobretudo, nos últimos dias que antecederam a captura em 2002 de Robert Hanssen (Chris Cooper, excelente), um especialista em informática do FBI, agente veterano altamente gabaritado e que durante anos e anos vendeu sem ninguém desconfiar informações sigilosas para os russos, que causaram a morte de vários agentes americanos (e também de soviëticos infiltrados) e custaram ao governo federal bilhões de dólares em prejuízos. Também é um pornógrafo que vende, às escondidas, material obsceno pelo correio. pretexto inicial para sua captura. Mas esse traidor e pervertido tem uma aparência tranqüila, um jeitão obsoleto para os novos protocolos do Bureau, é dedicado à família, ao trabalho e vai à igreja todo dia, como temente a Deus. Apesar de rígido, ganha rapidamente a confiança e a admiração de Eric O'Neill (Ryan Philippe), novato, CDF e ambicioso agente designado para espioná-lo por sua superiora durona (Laura Linney) até o momento do flagrante. Como um trabalho desses exige dedicação integral, isso obviamente abalará o casamento de Eric e vai impondo pouco a pouco uma questão ética a ele, pois à medida que se aproxima de Robert, inevitavelmente forma-se um laço de lealdade entre eles. Até na hora da inevitável traição. E rompê-lo termina por desafiar as convicções morais de O’Neill, que vão além da carreira, da justiça e de outras instituições americanas. Um duelo de atores, concentrado, diálogos afiados, momentos de tensão eficazes e feitos com tão poucos recursos em uma fotografia neutra, para revelar que, na tão (mal)falada Era Bush, de vigilância onipresente, o inimigo se oculta entre nossos próximos. Seu amigo de um dia é o inimigo no dia seguinte, bem distante dos inimigos externos de ontem, como os comunistas soviéticos, e de hoje, como os talibãs. Parece óbvio, mas, sob as falsas (e dissimuladas) aparências dos dias atuais, só parece.

quinta-feira, março 15, 2007

Lições de Vida

(Driving Lessons, Reino Unido, 2006)



Particularmente gosto dessas pequenas comédias britânicas que surgem por aí vez ou outra. Esta aqui não foi lançada; foi arremessada no circuitinho culturete paulistano, numa única sala e ninguém vai vê-la, provavelmente. Também não vai ganhar o Oscar, Cannes, Bafta, muito menos o Prêmio Jairo Ferreira (talvez por não ter sido filmada em preto e branco, com câmera estática, nem durar três penosas horas). Ainda assim é muito agradável de ser assistida. Não intenciona ser mais que um feel good movie e tem sucesso nisso. Como em Vênus, de Roger Michell, sobre diferença de gerações e com a morte onipresente, narra a relação de altos e baixos entre uma velha dama do teatro, Evie Walton (Julie Walters, esplêndida), cheia de vida e imprevisível, e seu jovem assistente, o quase morto Ben (Rupert Grint, da série Harry Potter), aspirante a poeta, oriundo de uma família bem religiosa, ou nem tanto, cujo pai (Nicholas Ferrell) é pastor e a bela e rígida mãe (Laura Linney), empenhada até demais nas atividades da igreja, freqüentemente escalando seu filho para peças bíblicas, em que interpreta com vigor Shakespeareano arbustos e eucaliptos. Além de comandar a casa, também é bem dedicada, entre um ou outro "Oh Lord!", em trair o marido com um jovem pastor e aspirante a Jesus Cristo das montagens que dirige, além de limitar os encontros sociais do tímido filho, que tenta sem sucesso tirar carta de motorista ou conquistar sua coleguinha de escola. No verão, tudo muda quando Ben arruma um emprego de meio período na casa de Evie. Então o filme vira, certa feita, um road movie, mas como o país percorrido é o Reino Unido, a viagem não dura tanto, embora a trajetória seja de descobertas duradouras para Ben, que aprenderá mais do que as lições de direção do título original, para o desespero de sua mãe, e de redescoberta para Evie, como na bela cena em que os dois contemplam um lago na Escócia. Ela dará um novo rumo à vida de Ben e ele a estimulará a “atuar” novamente no palco, já que se encontrava relegada a papéis secundários na TV ou a leituras públicas de poesia. Parece óbvio, ainda mais pelo título em português, que evoca o clássico Ensina-me a Viver (1971), de Hal Ashby, inclusive pela similaridade do tema retratado, mas o ótimo elenco e o humor dos diálogos e situações garantem o interesse por este filme despretensioso de Jeremy Brock, roteirista do mais prestigioso O Último Rei da Escócia. Bacana, bacana.